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Críticas

NAO

: "Saturn"

Ano: 2018

Selo: RCA / Sony / Little Tokyo

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Kelela, SZA e Jorja Smith

Ouça: Orbits, Another Lifetime e Saturn

8.0
8.0

Resenha: “Saturn”, NAO

Ano: 2018

Selo: RCA / Sony / Little Tokyo

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Kelela, SZA e Jorja Smith

Ouça: Orbits, Another Lifetime e Saturn

/ Por: Cleber Facchi 05/11/2018

Revisitar o passado a partir de uma linguagem essencialmente pop, acessível e transformadora. Esse tem sido o principal trabalho da cantora e compositora britânica Neo Jessica Joshua desde o início da carreira como NAO. Composições que passeiam de forma curiosa pelo R&B/soul dos anos 1970, 1980 e 1990, porém, dentro de uma estrutura renovada, marcada frescor das batidas, colagens eletrônicas e melodias detalhadas de forma colaborativa entre a artista original de Nottingham, Inglaterra, e um time seleto de produtores e músicos.

Segundo álbum de estúdio da cantora, Saturn (2018, RCA / Sony / Little Tokyo) preserva de maneira explícita a essência dos antigos trabalhos da artista britânico, crescendo como uma clara sequência ao material entregue no antecessor For All We Know (2016). São variações instrumentais que vão do R&B ao pop em uma linguagem própria de NAO, conceito que se reflete tão logo o álbum tem início, na melancólica Another Lifetime, e segue até a construção da derradeira A Life Like This.

Entre vozes carregadas de efeitos, conceito que vem sendo explorado desde February 15 (2015), NAO transforma as próprias desilusões em música. “Meio triste, mas você me lembra / Você me lembra de um amor que eu conheci / Meio triste, mas você me lembra / Você me lembra de um amor que me superou também / Ele me liberou em órbita / Ainda assim, encontrei uma maneira de navegar até você“, canta em Orbit, uma das canções mais dolorosas do disco e síntese involuntária de tudo aquilo que a cantora revela ao longo do trabalho.

São canções marcadas pelo permanente desejo do eu lírico (Gabriel), encontros e desencontros que corrompem o relacionamento de qualquer casal (Make It Out Alive), ou mesmo faixas em que a cantora desaba por completo (If You Ever). Canções em que NAO se revela ao público como protagonista da própria obra, caso de Don’t Change, música em que cita Prince (“Nós poderíamos desistir da dor, e mais cedo vencemos / Nenhuma chuva roxa para você“) e parece flutuar em meio a pequenas desilusões e conflitos pessoais.

Claro que esse permanente estágio de melancolia não interfere na produção de faixas menos contemplativas. É o caso de Drive and Disconnect, música em que se entrega ao mesmo pop latino de nomes como Rosalía, arrastando o ouvinte para as pistas. Mesmo o precioso dueto com Kwabs, na faixa-título do disco, parece distanciar o ouvinte da sequência de versos tristes que recheiam o disco. “E é assim que deve ser / Você sai e retorna / Você é como Saturno para mim, para mim / Eventualmente você vai continuar a me dar o que eu preciso“, cresce a romântica letra da canção, centrada na temática do Retorno de Saturno, base conceitual para todo o repertório do disco.

Cercada de colaboradores – Mura Masa, o rapper SIR, Daniel Caesar, STINT e GRADES estão entre os artistas que trabalharam na produção do disco –, NAO faz de Saturn um trabalho tão precioso quanto o material entregue há dois anos, em All We Know. Composições que parecem pensadas para dialogar com o que há de mais doloroso no cotidiano de qualquer indivíduo romântico. Um misto de melancolia e libertação, conceito que vem sendo explorado pela cantora britânica desde os primeiros inventos em estúdio, mas que ganha novo enquadramento nas canções do presente álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.