Resenha: “Schmilco”, Wilco

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2016

Artista: Wilco
Gênero: Indie, Folk, Alternative
Acesse: http://wilcoworld.net/schmilco/

 

Em 2015, Jeff Tweedy e os parceiros de banda pegaram todo mundo de surpresa com o lançamento de Star Wars. Distribuído gratuitamente pelo site oficial do Wilco, o 9º álbum de estúdio do coletivo de Chicago, Illinois, apresentou ao público um som completamente renovado, leve e intimista, como um fuga do antecessor The Whole Love (2011). A busca declarada por um material cada vez menos complexo, porém, ainda assim provocativo, conceito que volta a se repetir com a chegada do inédito Schmilco (2016, dBpm).

Com título inspirado em um álbum do cantor e compositor Harry Nilsson — Nilsson Schmilsson, de 1971 —, e capa assinada pelo cartunista espanhol Joan Cornellà, o 10º registro de inéditas do grupo é uma obra que se projeta de maneira essencialmente segura, por vezes contida. Da forma como os instrumentos flutuam ao fundo do disco, passando pela voz limpa de Tweedy, exageros ou mesmo instantes de maior experimento são cuidadosamente evitados ao longo do trabalho.

Assim como o registro lançado há poucos meses, Schmilco parece acolher o ouvinte, efeito da explícita leveza instrumental e fino toque de melancolia que sustenta os versos. São composições em que Tweddy resgata com naturalidade uma série de memórias da própria infância (Normal American Kids), se aprofunda na construção de versos amargurados (Someone to Lose) e ainda detalha pequenas reflexões intimistas (Happiness).

Do momento em que tem início até o último sussurro do disco, um mundo de histórias, relacionamentos conturbados e medos que invadem a mente de qualquer indivíduo. A diferença em relação a outros trabalhos do gênero está na forma como Tweedy interpreta todo esse universo de emoções de forma sempre provocativa, forte, mesmo na delicada sobreposição das vozes e arranjos que marcam o registro. Uma lenta desconstrução de diferentes traumas, medos, personagens e suas relações.

Estou tão confuso / Não posso me mover /  Eu não posso sequer tentar / Espero que você encontre alguém para perder / Algum dia”, canta em Someone To Lose, uma dolorosa canção sobre traição, saudade e vingança. A mesma complexidade dos sentimentos acaba se refletindo em outros instantes da obra, caso da derradeira Just Say Goodbye (“Nós tentamos tanto / Só para dizer adeus”) e também na emocionalmente conturbada Cry All Day (“Em vez disso dou-lhe boa noite / Outro adeus / Eu vou chorar”).

Consumido pelas emoções, Schmilco parece longe de igualar a mesma complexidade de obras como Yankee Hotel Foxtrot (2001), Being There (1996) e A Ghost Is Born (2004). Trata-se de um registro marcado pela segurança. Movimentos, arranjos e vozes planejadas do primeiro ao último instante. Um trabalho talvez “menor” quando observamos a rica seleção de obras produzidas pelo grupo nas últimas duas décadas,  entretanto, uma obra que encanta justamente pela força dos sentimentos que se escondem no interior de cada composição.

 

Schmilco (2016, dBpm)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: My Morning Jacket, Ryan Adams e The War on Drugs
Ouça: If I Ever Was a Child, Someone to Lose e Just Say Goodbye

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.