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Críticas

Brand New

: "Science Fiction"

Ano: 2017

Selo: Procrastinate! Music Traitors

Gênero: Rock Alternativo,

Para quem gosta de: Taking Back Sunday e The Hotelier

Ouça: Same Logic / Teeth e Can't Get It Out

8.5
8.5

Resenha: “Science Fiction”, Brand New

Ano: 2017

Selo: Procrastinate! Music Traitors

Gênero: Rock Alternativo,

Para quem gosta de: Taking Back Sunday e The Hotelier

Ouça: Same Logic / Teeth e Can't Get It Out

/ Por: Cleber Facchi 25/08/2017

O Brand New é um desses casos raros de bandas com quase duas décadas de carreira e um repertório enxuto, montado com pouquíssimas obras de estúdio. Em um longo e particular período de atuação, o grupo formado no início dos anos 2000 por Jesse Lacey (voz, guitarras), Vincent Accardi (guitarras, voz), Garrett Tierney (baixo, voz) e Brian Lane (bateria), deu vida a quatro grandes registros de inéditas, dois deles verdadeiros clássicos do rock alternativo, caso de Deja Entendu, lançado em 2003, e a obra-prima The Devil and God Are Raging Inside Me, trabalho entregue ao público três anos mais tarde.

Quinto e mais recente álbum de estúdio do grupo original de Long Island, Nova York, Science Fiction (2017, Procrastinate! Music Traitors) mostra que a transformação instrumental e poética iniciada há 11 anos continua a favorecer o trabalho do grupo norte-americano. Sucessor do equilibrado Daisy, lançado em 2009, o presente disco sustenta na força dos versos, sempre intimistas, provocativos e confessionais, o estímulo para uma obra marcada pela catártica construção dos versos.

Em um desfiladeiro sentimental que tem início na curiosa narrativa entre paciente e terapista logo nos primeiros segundos de Lit Me Up, o trabalho de 12 faixas e pouco mais de 60 minutos de duração revela na poesia melancólica, densa, de Jesse Lacey o principal componente para o natural crescimento da obra. São versos marcados por referências existencialistas, conflitos pessoais e religiosos, como em 137, Could Never Be Heaven e No Control, resultando um precioso contraponto ao tom depressivo que sustenta parte expressiva da discografia do Brand New.

Perfeita representação do material sufocante que orienta o trabalho sobrevive na intensa Same Logic / Teeth, quinta faixa do disco. Entre arranjos semi-acústicos, sintetizadores e guitarras detalhistas, Lacey e os parceiros de banda atravessam o mesmo território musical de veteranos como Pixies, Modest Mouse e Built To Spill, transformando a canção em um imenso turbilhão criativo. Arranjos melódicos que se conectam diretamente aos versos berrados do vocalista — “Não preciso saber de onde você vem / Se você não sabe o lugar que você pertence … Você é apenas ator, não um médico / Envergonhado pelo que costumava ser“.

Costurado por referências religiosas, políticas e literárias, Science Fiction amplia consideravelmente uma série de debates e temas que vêm sendo promovidos pela banda desde a estreia com Your Favorite Weapon (2001). Um bom exemplo disso está em Desert, música que nasce como um ataque direto ao fundamentalismo de diversas entidades e grupos religiosos. O mesmo conceito se repete na rica In the Water, faixa que utiliza de inserções bíblicas para discutir elementos como a morte, passagem do tempo e conflitos urbanos/pessoais.

Distante de romantismo torto e desilusões amorosas que marcam diferentes aspectos da cena alternativa/emo nos últimos anos, Science Fiction carrega na lenta desconstrução dos versos um curioso ponto de distanciamento e fina identidade musical. Mesmo a base instrumental do disco, guiada por diferentes possibilidades, cenas e inspirações, aos poucos transporta o ouvinte para um novo cenário criativo. Um registro intenso, necessário, prova de que o Brand New continua tão relevante quanto no início da década passada.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.