Resenha: “Sick Scenes”, Los Campesinos!

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2017

Artista: Los Campesinos!
Gênero: Indie Rock, Alternativo, Indie Pop
Acesse: http://www.loscampesinos.com/

 

Guitarras e batidas rápidas, o coro de vozes melódicas – Uh Uh Uh Uh Uh Uh Uh-Uh –, sintetizadores sempre funcionais, trabalhados ao fundo da composição. Basta uma rápida audição da inaugural Renato Dall’Ara (2008) para que o ouvinte seja instantaneamente transportado para dentro do novo álbum de inéditas do Los Campesinos. Finalizado depois de um hiato de quatro anos, Sick Scenes (2017, Wichita Recordings) traz de volta a mesma energia do coletivo inglês em começo de carreira, porém, completo pelo uso de versos e temas marcados pela sobriedade.

Dizem que se tivessem conquistado a vitória / Agiriam com muito mais humildade / Dizem que se tivessem conquistado a vitória / Bem, acho que nunca saberemos”, canta o vocalista Gareth em 5 Flucloxacillin, um reflexo da poesia angustiada e completa descrença – política e social – que sustenta o trabalho. Canções mergulhadas de forma explícita no universo da vida adulta, como uma lenta desconstrução do romantismo jovial e sonhador retratado nos primeiros álbuns de estúdio do grupo.

Sucessor dos maduros Hello Sadness (2011) e No Blues (2013), Sick Scenes é um trabalho que reflete os principais tormentos de qualquer indivíduo que acaba de alcançar a vida adulta. Um disco naturalmente amargo, mas nunca pessimista, montado a partir de memórias e fragmentos sempre sensíveis. Canções que falam sobre a dificuldade em lidar com a depressão, caso de I Broke Up in Amarante, ou mesmo versos que refletem a vida conjugal de forma pessimista, marca de Here’s to the Fourth Time! – “E tudo o que temos é a necessidade de se reproduzir antes de apodrecer”.

Quinta faixa do disco, a acolhedora The Fall of Home talvez seja a composição que melhor reflete esse “deslocamento” do eu lírico durante toda a construção do trabalho. Entre versos curtos e lembranças recortadas de diferentes épocas, o ouvinte percebe a incapacidade do protagonista em se adaptar aos velhos costumes da cidade onde cresceu. “Você deixou a sua cidade natal por algo novo / Não se surpreenda, agora ela está deixando você”, canta o vocalista da banda enquanto uma delicada base melódica, composta por xilofones e violinos, dança em torno dos versos.

O mesmo refinamento na composição musical de The Fall of Home acaba se repetindo durante toda a formação do disco. Seja nos instantes de maior explosão, como as iniciais Sad Suppers e I Broke Up in Amarante, ou na construção de peças crescentes, caso de Got Stendhal’s e A Slow, Slow Death, faixa após faixa, o septeto inglês brinca com as possibilidades em estúdio. Uma explosão de sons que ultrapassa a trinca baixa-guitarra-bateria e cresce no uso atípico de diferentes instrumentos.

Produto da longa parceria entre o coletivo britânico e o produtor californiano John Goodmanson, Sick Scenes mostra o Los Campesinos! em sua melhor forma. Agridoce, cada fragmento do registro utiliza de cenas e sentimentos reais para se aproximar do ouvinte, fazendo da instrumentação minuciosa um poderoso complemento para a formação dos versos. Uma prova de que o período longe dos estúdios trouxe benefícios reais ao trabalho da banda.

 

Sick Scenes (2017, Wichita Recordings)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cymbals Eat Guitars, The Pains of Being Pure at Heart e Stars
Ouça: 5 Flucloxacillin, The Fall of Home e Got Stendhal’s

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.