Resenha: “Silver Eye”, Goldfrapp

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2017
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Artista: Goldfrapp
Gênero: Eletrônica, Trip-Hop, Alternativa
Acesse: https://www.goldfrapp.com/

 

Passado o lançamento de Seventh Tree, em fevereiro de 2008, Alison Goldfrapp e o parceiro Will Gregory decidiram fazer de cada novo álbum do Goldfrapp uma obra de possibilidades. Não por acaso, Head First (2010), trabalho finalizado dois anos mais tarde, transportou o ouvinte para um universo de cores e sons típicos da década de 1980. Uma viagem temporária em direção o passado, efeito da mudança de sonoridade incorporada na eletrônica noir de Tales of Us, obra entregue ao público em 2013.

Primeiro registro de inéditas dos ingleses em quatro anos, Silver Eye (2017, Mute) não apenas mantém firme o propósito do Goldfrapp em se reinventar, como ainda resgatar uma série de elementos originalmente testados pela dupla no primeiro álbum de estúdio, o ótimo Felt Mountain (2000). Entre sintetizadores e batidas que resgatam a essência do Trip-Hop/Chillout dos anos 1999, a voz da cantora se espalha vagarosa, delicadamente polida pelo uso de efeitos e desconstruções momentâneas que saltam aos ouvidos.

Mais do que um exercício isolado da dupla, o trabalho de dez faixas se abre para a chegada de um novo time de colaboradores. São nomes como Leo Abrahams, artista inglês que já trabalhou ao lado de nomes como Brian Eno, Paul Simon e Imogen Heap; o conterrâneo Bobby Krlic (The Haxan Cloak), recente colaborador de Björk, além, claro, do requisitado John Congleton (St. Vincent, Swans), músico norte-americano responsável pela co-produção do álbum junto de Gregory.

De abertura comercial, efeito dos sintetizadores e versos fáceis de Anymore, música que lembra a boa fase em Black Cherry (2003) e Supernature (2005), Silver Eye aos poucos se perde em meio a pequenos experimentos e variações soturnas. Prova disso está na derradeira Ocean. Entre batidas minimalistas, ruídos e sintetizadores crescentes, a voz doce de Goldfrapp se converte em algo fantasmagórico, por vezes íntimo do som produzido pela cantora e produtora sueca Karin Dreijer Andersson (The Knife, Fever Ray).

Todavia, esse permanente senso de renovação em nenhum momento impede que o trabalho cresça em meio a emanações etéreas e melodias delicadas, típicas do Goldfrapp. Basta uma rápida audição pelo bloco central do disco, como Zodiac Black, Faux Suede Drifter e Become The One para que a dupla britânica faça a mente do ouvinte flutuar. Mesmo as dançantes Moon In Your Mouth e Systemagic evidenciam o mesmo cuidado, resultado do esforço coletivo entre a dupla britânica e a lista de produtores convidados.

Registro mais inventiva do Goldfrapp em anos, Silver Eye mostra a capacidade da dupla britânica em provar de temas experimentais (Become The One, Ocean) e composições acessíveis (Anymore, Systemagic) sem necessariamente esbarrar na construção de um trabalho confuso. Um precioso cruzamento de ideias que começa na própria herança musical do projeto e cresce na interferência precisa do time de produtores que ocupam todas as brechas do álbum.

 

Silver Eye (2017, Mute)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Róisín Murphy, Annie e Robyn
Ouça: Anymore, Ocean e Become The One

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.