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Críticas

No Age

: "Snares Like A Haircut"

Ano: 2018

Selo: Drag City

Gênero: Indie Rock, Noise Rock

Para quem gosta de: Japandroids, The Men e Deerhunter

Ouça: Soft Collar Fad e Snares Like A Haircut

8.0
8.0

Resenha: “Snares Like A Haircut”, No Age

Ano: 2018

Selo: Drag City

Gênero: Indie Rock, Noise Rock

Para quem gosta de: Japandroids, The Men e Deerhunter

Ouça: Soft Collar Fad e Snares Like A Haircut

/ Por: Cleber Facchi 14/02/2018

Depois de revelar três obras de profunda contribuição para o (novo) rock alternativo – Weirdo Rippers (2007), Nouns (2008) e Everything in Between (2010) –, estranho seria se Randy Randall e Dean Allen Spunt não parecessem cansados ou pouco inspirados dentro de estúdio. Não por acaso, An Object (2013), quarto álbum de estúdio do No Age, talvez seja o trabalho menos interessante da banda norte-americana, como se a dupla original da cidade de Los Angeles, Califórnia, fosse incapaz de ir além do som originalmente testado no disco anterior, lançado três anos antes.

Longe de parecer uma surpresa, em Snares Like a Haircut (2018, Drag City) quinto registro de inéditas da dupla norte-americana, o ouvinte não apenas encontra uma banda em boa forma, como esbarra em um mundo de novas possibilidades e inventos autorais sutilmente projetados dentro de estúdio. Mais do que um contínuo preservar da estética e sonoridade testada há mais de uma década pelo duo estadunidense, cada canção produzida para o álbum serve de passagem para um universo completamente novo – pelo menos dentro da curta discografia do No Age.

Resumido como “rock and roll para o buraco negro“, o trabalho de 12 faixas claramente acaba dividido em duas porções distintas. Como indicado logo na inaugural Cruise Control, todo o primeiro bloco do registro parece dedicado ao criativo resgate do mesmo rock cru testado pela dupla nos primeiros álbuns de inéditas. Paredões de ruídos que encolhem e crescem a todo instante, postura reforçada no material enérgico de Stuck In The ChangerDrippy, essa última, música que parece resgatada do repertório produzido para Everything in Between.

A principal diferente diferença em relação aos antigos trabalhos da dupla está na sutil inserção de ambientações etéreas e expressivo uso de temas melódicos, postura reforçada no vocal limpo que se estende durante toda a execução do álbum. São paisagens instrumentais que inauguram ou mesmo encerram cada composição, vide a psicodélica Send Me, música que transporta o No Age para um ambiente etéreo, lembrando um encontro entre Cocteau Twins e The Cure. Inserções minuciosas que acabam servindo de estímulo para a segunda e delicada porção do registro.

Como indicado na própria faixa-título do disco, Randall e Spunt parecem inclinados ao uso de bases atmosféricas, como respiros instrumentais que servem de complemento ao aspecto cru do trabalho. Canções que provam de pequenos experimentos, como em Third Grade Rave e, principalmente, em Squashed, faixa que parece saída de algum disco do Deerhunter. Curvas rítmicas que acabam contribuindo para o fortalecimento de faixas caóticas como Soft Collar Fad, música que parece resgatar o mesmo som versátil incorporado pela dupla durante a produção de Nouns.

Delicado e explosivo na mesma proporção, Snares Like a Haircut joga com os instantes. Perceba como cada composição parece pensada individualmente, como se Randall e Spunt ocupassem toda e qualquer brecha do trabalho com camadas de ruídos, batidas, vozes e bases atmosféricas, fazendo do álbum uma obra que exige tempo até ser apreciada por completo. Um lento desvendar de ideias, como a passagem para uma nova e ainda mais criativa fase na carreira da dupla norte-americana, ainda tão inventiva quanto nos primeiros registros autorais.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.