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Críticas

Julia Branco

: "Soltar os Cavalos"

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Indie, Alternativa, MPB

Para quem gosta de: Letrux e Luiza Brina

Ouça: Estrela, 30 Anos e Eu Sou Mulher

8.1
8.1

Resenha: “Soltar os Cavalos”, Julia Branco

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Indie, Alternativa, MPB

Para quem gosta de: Letrux e Luiza Brina

Ouça: Estrela, 30 Anos e Eu Sou Mulher

/ Por: Cleber Facchi 02/08/2018

“Eu sou mulher
E isso só me amplia
Não cabe numa palavra
Por tudo que acerta
Que erra”

Mesmo longe de parecer a principal música de Soltar os Cavalos (2018, Independente), estreia em carreira solo da cantora e compositora mineira Julia Branco, Eu Sou Mulher, quarta composição do disco, diz muito sobre o material entregue pela artista. São poemas musicados que refletem os diferentes espectros da alma feminina. Instantes guiados pela autodescoberta do eu lírico, versos existencialistas, incertezas e gritos de libertação pessoal que acompanham o ouvinte até a derradeira Cheia de Dobras.

Mais conhecida pelo trabalho como integrante da banda mineira Todos Os Caetanos do Mundo — com quem lançou o bom Pega a Melodia e Engole (2015) —, em nova fase, Branco segue uma trilha diferente dos antigos registros autorais. Enquanto os versos detalham as experiências particulares e interpretações sobre ser mulher, musicalmente, o álbum aponta para novas direções. Recortes minimalistas que se aproximam do jazz, sutilmente corrompem a MPB tradicional e fazem da voz o principal componente da obra.

Sou forte / Sou grande / Sou do tamanho do medo / Aqui / Não me dói nada / Aqui / Não passa nada“, canta na introdutória Sou Forte, composição guiada e essência pelo vocal forte, limpo e decidido de Branco, porém, lentamente acrescida de delicadas inserções instrumentais. A linha de baixo destacada, sempre climática, pianos pontuais e batidas abafadas. Um estímulo breve para o material que chega na sequência, com Estrela, outro ato de profunda entrega da cantora mineira — “Nunca pensei que seria cavala / Num galope certeiro saltando essa vala / Eu vou“.

Parte dessa estrutura nasce da forte interferência dos parceiros Chico Neves e Luiza Brina durante toda a execução da obra. Enquanto o primeiro, produtor que trabalhou ao lado de nomes como Los Hermanos e Skank, assume a composição dos arranjos e produção do álbum, Brina, também integrante da Graveola e o Lixo Polifônico, ocupa todas as brechas do registro, versátil, tocando parte expressiva dos instrumentos. O resultado dessa parceria está na formação de um material que encolhe e cresce a todo instante, valorizando todas as nuances e poemas musicados de Branco.

Obra de sentimentos e versos contemplativos, conceito reforçado com naturalidade na mística Peixes (“Eu sempre quis mais / um pouco mais do que parece ser real / eu gosto muito de um delírio / Bem surreal“), Soltar os Cavalos ainda se abre para a chegada de um expressivo time de convidados. São nomes como Paulo Santos (Uakti), a cantora Uyara Torrente (A Banda Mais Bonita da Cidade) e, principalmente, Letícia Novaes (Letrux), parceira de Branco em uma das principais faixas do disco, a libertadora 30 Anos — “Quero dançar / Não vou ter medo de viver / Tampouco de amar“.

Pensado para além dos limites do estúdio em que foi gravado, Soltar os Cavalos ganha ainda mais destaque na série de vídeos concebidos especialmente para o álbum. São interpretações estéticas concebidas por cinco diretoras diferentes — Luísa Horta (Sou Forte), Raquel Pinheiro (30 Anos), Samanta do Amaral (Eu Sou Mulher), Julia Zakia (Meu Corpo) e Sara Lana (Coisas). Frações poéticas, sonoras e visuais que se entrelaçam de forma essencialmente sensível, sempre íntimas do ouvinte, ampliando os domínios e força do trabalho orquestrado pela voz de Branco.

Eu sou mulher
Porque carrego uma flecha
Que aponta pra uma pergunta
Por tudo que abre
Que fecha

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.