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Críticas

Earl Sweatshirt

: "Some Rap Songs"

Ano: 2018

Selo: Tan Cressida / Columbia

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: Tyler, The Creator e Shabazz Palaces

Ouça: The Mint, Nowhere2go e Ontheway!

8.3
8.3

Resenha: “Some Rap Songs”, Earl Sweatshirt

Ano: 2018

Selo: Tan Cressida / Columbia

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: Tyler, The Creator e Shabazz Palaces

Ouça: The Mint, Nowhere2go e Ontheway!

/ Por: Cleber Facchi 07/12/2018

De todos os nomes que já passaram pelo Odd Future, como Tyler, The Creator, Frank Ocean e os integrantes do The Internet, Earl Sweatshirt talvez seja o artista que mais tem de aventurado criativamente. Sem pressa, em uma medida própria de tempo, cada novo registro entregue pelo rapper norte-americano parece apontar para um universo criativo completamente transformado, torto. Batidas e rimas propositadamente estranhas, sempre perturbadoras, como a passagem a passagem para um ambiente que parece desvendado em essência apenas por seu realizador.

Primeiro álbum de inéditas desde o sombrio I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside: An Album by Earl Sweatshirt (2015), obra que trouxe músicas como Grief e Wool, Some Rap Songs (2018, Tan Cressida / Columbia) mostra a capacidade de Sweatshirt em se reinventar dentro de estúdio, brincando com o uso inexato de fórmulas instrumentais e vozes sem ordem aparente. São composições curtas, atos de até dois minutos, em que o ouvinte é convidado a se perder em um território de pequenas incertezas, conceito que vem sendo aprimorado desde o primeiro registro de estúdio da carreira, o excelente Doris (2013).

Do momento em que tem início, em Shattered Dreams, música marcada pelo forte discurso político e racial, passando pela sequência formada entre The Bends e Loosie, canções centradas no isolamento e completa melancolia do eu lírico, cada fragmento do disco encontra em conflitos recentes de Sweatshirt a base para o fortalecimento dos versos. Trata-se de uma obra guiada em essência pela corrupção do fluxo de pensamento, como uma interpretação musical dos principais tormentos e desilusões que invadem a mente do rapper.

Parte desse direcionamento acaba se refletindo na forma como o próprio Sweatshirt assume a produção do álbum. São retalhos instrumentais e samples que dialogam com o soul dos anos 1960 e 1970, porém, de forma tão fracionada e desconstruída que é difícil estabelecer um ponto de equilíbrio. Exemplo disso está no encontro com Standing on the Corner, em Ontheway!, e Navy Blue, na claustrofóbica The Mint. Composições trabalhadas em uma base cíclica, irregular e marcada pela utilização de tempos estranhos, estímulo para a construção de músicas como Nowhere2go, canção que parece saída do último disco de Bon Iver, 22, A Million (2016), além, claro, da delirante Azucar.

Dentro desse ambiente caótico e estranhamente particular, surgem faixas como a curiosa Playing Possum. Trata-se de uma composição montada a partir de retalhos poéticos assumidos pelos pais de Sweatshirt, a professora de direito Cheryl Harris e o poeta sul-africano Keorapetse Kgositsile (1938 – 2018). A própria faixa de encerramento do disco, Riot!, utiliza do mesmo quebra-cabeça de ideias, colidindo samples e melodias abstratas assinadas pelo tio do próprio rapper, o jazzista Hugh Masekela.

Mesmo claustrofóbico na forma como Sweatshirt estabelece a construção das rimas e temas instrumentais, Some Rap Songs está longe de parecer um trabalho inacessível. Dado o mergulho na inaugural Shattered Dreams, cada composição do disco parece arrastar o ouvinte cada vez mais para o fundo do registro. É como perceber o mundo a partir das experiências pessoais, conflitos e memórias recentes do próprio rapper. Ideias que se entrelaçam sem ordem aparente, direcionamento que faz do presente álbum uma obra viva, talvez maior e mais complexa a cada nova audição.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.