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Críticas

Haim

: "Something to Tell You"

Ano: 2017

Selo: Polydor

Gênero: Pop, Rock, R&B

Para quem gosta de: Sky Ferreira e Carly Rae Jepsen

Ouça: Want You Back e Little of Your Love

8.3
8.3

Resenha: “Something to Tell You”, Haim

Ano: 2017

Selo: Polydor

Gênero: Pop, Rock, R&B

Para quem gosta de: Sky Ferreira e Carly Rae Jepsen

Ouça: Want You Back e Little of Your Love

/ Por: Cleber Facchi 11/07/2017

Poucos artistas atuais parecem capazes de replicar com tamanha naturalidade o som produzido no final dos anos 1970 quanto o Haim. Um universo de emanações nostálgicas, claramente inspirado pela obra de veteranos como Fleetwood Mac, Bruce Springsteen, Eagles e outros tantos coletivos que alcançaram seus melhores trabalhos durante o período. Melodias cuidadosamente exploradas, vozes em coro e versos acessíveis, sempre consumidos pelos sentimentos, combustível para o material aprimorado pela banda no recente Something to Tell You (2017, Polydor).

Segundo álbum de estúdio do grupo formado pelas irmãs Este, Danielle e Alana Haim, o trabalho de harmonias radiantes segue exatamente de onde o trio parou há quatro anos, durante o lançamento do elogiado debute Days Are Gone (2013). Produzido em parceria com o colaborador de longa data, o músico Ariel Rechtshaid (Sky Ferreira, Tobias Jesso Jr.), cada fragmento do presente registro aproxima passado e presente de forma cuidadosa, encontrando no uso de novas referências e gêneros musicais um fino toque de renovação.

Logo na primeira metade do disco, um country-rock à la Shania Twain em Little of Your Love, música que explode no refrão – “Você precisa me dar apenas um pouco do seu amor, baby“. Em Ready for You, colaboração com George Lewis Jr., do Twin Shadow, um claro amadurecimento da relação do trio com o R&B, gênero explorado com maior naturalidade na também provocativa Walking Away, faixa que leva a assinatura de Rostam Batmanglij (ex-Vampire Weekend) e parece invadir o mesmo universo musical do Chairlift no derradeiro Moth (2016).

Dentro desse colorido território instrumental, versos, lamentos e confissões marcadas pelo romantismo. “O meu amor era demais para você? / Eu acho que você nunca soube o que era bom para você / Não me deixe esperando com as palavras que você está com medo de expressar“, canta em You Never Knew, música que flutua entre o romantismo de Stevie Nicks em Rumours (1977) e o soul de Michael Jackson, reflexo da forte interferência de Dev Heynes (Blood Orange) como colaborador da faixa. Um perfeito resumo da melancolia tocante que rege o disco.

Na derradeira Night So Long, um reflexo da mesma poesia angustiada. “Digo adeus ao amor novamente / Na solidão, minha única amiga / Na solidão, meu único medo“, confessa o eu lírico. Um toque sorumbático que cresce na densa Right Now (“Te dei meu amor, você não me deu nada / Disse que o que eu dei não foi suficiente / Você fez eu me sentir como uma idiota / Por sempre acreditar que isso poderia ser o único“). Mesmo a inaugural Want You Back, com seus arranjos coloridos que flertam com Hansons e The Jackson 5, versos costurados pelo mais doloroso sentimento (“Eu vou te dar todo o amor que nunca dei antes de te deixar“).

Interesse perceber que mesmo consumido pela dor, Something to Tell You em nenhum momento parece sufocar o ouvinte. Há sempre espaço para a inserção de versos radiantes, batidas e melodias dançantes ou mesmo vozes em coro que funcionam como uma pequena válvula de escape sentimental e criativa. Um cuidado evidente na construção do som radiofônico do antecessor Days Are Gone, mas que acaba encontrando melhor enquadramento do ambiente doloroso que cerca as canções do presente álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.