Resenha: “Step Psicodélico”, Tatá Aeroplano

/ Por: Cleber Facchi 02/11/2016

Artista: Tatá Aeroplano
Gênero: Indie, Rock Psicodélico, Alternativo
Acesse: http://www.tataaeroplano.com/site/

 

Depois de 15 anos de carreira e obras importantes como Pareço Moderno (2008) e Vamos pro Quarto (2013), os membros da Cérebro Eletrônico decidiram anunciar o fim das atividades da banda. Entretanto, o desligamento em nada parece ter afetado ao desenvolvimento criativo e todo o universo de temas lisérgicos explorados paralelamente pelos (ex-)integrantes do grupo, percepção reforçada em cada uma das canções de Step Psicodélico (2016, Voador Discos), novo álbum de Tatá Aeroplano.

Terceiro registro em carreira solo e sucessor do elogiado Na Loucura & Na Lucidez – 47º lugar na nossa lista dos 50 Melhores Discos Nacionais de 2014 –, o disco  montado a partir de faixas independentes, fragmentos explorados dentro de diferentes fórmulas e referências instrumentais, indica a busca do cantor por um som essencialmente mutável, experimental. Músicas que jogam com a interpretação do ouvinte, convidado a provar de diferentes histórias, cenários e pequenos delírios poéticos.

Step Psicodélico, como tudo que Aeroplano vem produzindo desde o primeiro álbum em carreira solo – um registro homônimo lançado em 2012 –, nasce como uma visita ao mundo de excessos, festas, tormentos e reflexões de personagens reais e imaginários da noite paulistana. Canções que visitam cenários, como a faixa-título do disco (“Mancha, Puxadinho … Serralheria, Francisca, Ciclovias”), e conflitos pessoais, caso de Dois Lamentos (“Tu me deixou chorando enquanto eu chorava”).

A principal diferença em relação aos dois últimos trabalhos do cantor está na forma como Aeroplano incorpora diferentes tendências, épocas e sonoridades sem necessariamente se fixar em um conceito musical específico. Canções que mergulham no folk-brega dos anos 1970 (Outono à Toa), resgatam o rock brasileiro do final da década de 1960 (Cadente) e ainda dialogam com diferentes fases do cancioneiro popular, caso da empoeirada Eu Inezito, oitava faixa do disco.

Parte desse aspecto “plural” da obra vem da forte interferência de Dustan Gallas (Cidadão Instigado), Junior Boca e Bruno Buarque como produtores do disco. Parceiros de longa data do artista paulistano e responsáveis pela composição de parte expressiva do registro. Sobram ainda nomes como Peri Pane, Ciça Góes, Bárbara Eugênia, Lenis Rino, Gustavo Galo e Julia Valiengo, esta última, também responsável pelo encarte do álbum.

Romântico, brega, delicado e louco, Step Psicodélico resgata diferentes aspectos da carreira de Aeroplano – solo ou como integrante do Cérebro Eletrônico –, de forma propositadamente instável. A cada composição, um novo exercício criativo, como se o músico paulistano esbarrasse no mesmo som versátil de veteranos como Os Mutantes e Júpiter Maçã. Emanações psicodélicas, versos embriagados e canções intimistas que bagunçam a percepção do ouvinte a todo instante.

 

Step Psicodélico (2016, Voador Discos)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Cérebro Eletrônico, Bárbara Eugênia e Rafael Castro
Ouça: Outono à Toa, Dois Lamentos e Eu Inezito

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.