Resenha: “Strangers”, Marissa Nadler

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2016

Artista: Marissa Nadler
Gênero: Folk, Dream Pop, Alternative
Acesse: http://www.marissanadler.com/

 

Com mais de uma década de carreira, Marissa Nadler continua a produzir o mesmo tipo de som doloroso e intimista que foi apresentado no inaugural Ballads of Living and Dying (2004). Versos que passeiam pelo universo romântico/doloroso da musicista, sempre disposta a confessar os próprios tormentos e desilusões a cada novo registros de inéditas. Um delicado exercício de exposição sentimental que se reforça com a chegada de Strangers (2016, Sacred Bones / Bella Union), sétimo e mais recente álbum de estúdio da cantora norte-americana.

Sucessor do delicado July (2014), um dos trabalhos mais coesos de toda a discografia de Nadler, Strangers sustenta na temática da separação um assertivo componente para amarrar as diferentes fases e composições que se relacionam diretamente com elementos da vida pessoal da cantora. Um espaço onde personagens metafóricos (Katie I Know, Janie In Love) e relatos pessoais (Hungry Is The Ghost, All The Colors of The Dark) dançam de forma lenta e melancólica.

Inaugurado pela densa Divers of The Dust, o registro de 11 faixas lentas parece pensado para sufocar o ouvinte em poucos segundos. Pianos e vozes sempre profundas, tocantes, como se cada nota de Nadler fosse encarada como a última, a mais dolorosa. Arranjos e versos explorados como parte de um único componente orquestrado pela dor. Lamentos que não apenas se relacionam com o que há de mais triste na vida de qualquer indivíduo apaixonado, como perturbam de maneira propositada.

Assim como no álbum apresentado há dois anos, Nadler flutua com naturalidade entre a timidez da música folk, marca dos primeiros registros de estúdio, e o som enevoado, gótico, que tanto caracteriza a sequência de obras pós-Little Hells (2009). Uma extensão menos “raivosa” e polida do mesmo material entregue pela conterrânea Chelsea Wolfe em Abyss, de 2015. Duas frentes distintas de canções, mas que se abraçam em uma ambientação homogênea, por vezes claustrofóbica como Nothing Feels The Same e demais faixas no encerramento do disco indicam.

Tamanha similaridade entre as faixas acaba fazendo de Strangers uma obra difícil de ser absorvida em uma rápida audição. É necessário tempo. Tudo é muito denso. Uma obra que parece seguir o caminho contrário em relação ao som explorado no antecessor July, registro em que Nadler e o produtor Randall Dunn – engenheiro de som que já trabalhou com nomes como Sun O))), Akron/Family e Boris – criam pequenos respiros instrumentais marcadas pela leveza dos arranjos e versos.

Ao mesmo tempo em que se revela como um dos trabalhos mais amargos e inacessíveis, de toda a carreira de Nadler, Strangers seduz pela força e sentimentos delicadamente orquestrados no interior de cada canção. Difícil não ser arrastado pelo turbilhão que movimenta All The Colors of The Dark ou mesmo pela sutileza dos arranjos exploradas em Dissolve, músicas conceitualmente distintas, mas que acabam resumindo toda a beleza (e dor) que invade o trabalho de Nadler.

Strangers (2016, Sacred Bones / Bella Union)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Chelsea Wolfe, Angel Olsen e Torres
Ouça: All The Colors of The Dark, Nothing Feels The Same e Dissolve

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.