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Críticas

Tanukichan

: "Sundays"

Ano: 2018

Selo: Company Records

Gênero: Dream Pop, Shoegaze, Indie Pop

Para quem gosta de: Beach House, Alvvays e Mitski

Ouça: Bitter Medicine, The Best e Sundays

8.0
8.0

Resenha: “Sundays”, Tanukichan

Ano: 2018

Selo: Company Records

Gênero: Dream Pop, Shoegaze, Indie Pop

Para quem gosta de: Beach House, Alvvays e Mitski

Ouça: Bitter Medicine, The Best e Sundays

/ Por: Cleber Facchi 23/07/2018

Às vezes, para mim, é mais fácil escrever músicas do que falar sobre as coisas. Muitas coisas na vida são em camadas e paradoxais, mas com a música, parece sempre ser mais simples“. A frase utilizada no texto de apresentação de Sundays (2018, Company Records), álbum de estreia de Tanukichan, diz muito sobre a forma como Hannah Van Loon explora as próprias composições. Versos centrados na completa vulnerabilidade de sua realizadora, sempre inclinada a explorar os próprios sentimentos e conflitos amorosos de forma essencialmente honesta.

Não por acaso, Loon escolheu Lazy Love como faixa de abertura do disco. Enquanto os versos refletem a completa melancolia da cantora – “Você sabe que eu faria qualquer coisa / Você não sabe que eu tento o meu melhor? / Se eu pudesse acordar quando o sol nascer / Amor preguiçoso” –, musicalmente, a canção aponta para o passado, se espalhando em meio a camadas de ruídos e texturas sujas que transportam o ouvinte para o final da década de 1980. Um reciclar de velhas experiências, reflexo da colaboração constante entre a artista de Oakland, Califórnia, e o músico Chaz Bear (Toro Y Moi), produtor do álbum.

Concebido em uma medida própria de tempo, cada fragmento do disco ganha forma aos poucos, sem pressa. São vozes submersas que dialogam com a obra de veteranos como Cocteau Twins e My Bloody Valentine, porém, preservando o mesmo direcionamento melódico incorporado por artistas como Black Tambourine, The Softies, Rocketship e demais representantes do dream pop/indie pop no início dos anos 1990. Exemplo disso está no pop sujo de Bitter Medicine, composição montada a partir de pequenas costuras instrumentais, refletindo o esmero de Loon na inserção de cada guitarra e verso.

O mais interessante talvez seja perceber o quanto esse cuidado no encaixe dos elementos se reflete durante toda a execução da obra. Nada é descartável, fazendo de cada fragmento (poético e instrumental) uma peça importante para o crescimento do trabalho. São batidas eletrônicas e blocos imensos de ruídos em Natural; sintetizadores atmosféricos e o uso de samples na faixa-título; guitarras carregadas de efeito, sempre trabalhadas em paralelo aos versos na intensa Perfect. Pouco mais de 30 minutos em que Loon e o parceiro de produção se entregam aos detalhes, fazendo do álbum a passagem para um mutável território criativo.

Embora minucioso, não há como ignorar o fato de que Sundays exige tempo até ser totalmente absorvido pelo ouvinte. Longe de qualquer imediatismo, cada composição parece muito mais ocultar do que revelar informações ao ouvinte, fazendo do álbum uma obra que talvez passe despercebida para o ouvinte mais apressado. Trata-se de uma obra feita para que o público se perca dentro dela, esmiuçando cada elemento de faixas como Hunned Bandz, ou mesmo sentimentos, caso da poesia introspectiva que cresce em The Best – “Esse sentimento fica dentro da minha alma / Não sei quando assumiu o controle / Enredado com todo o resto“.

Maior quando próximo do material apresentado pela cantora há dois anos, no curioso Radiolove EP (2016), Sundays reflete a imagem de uma artista em contínuo processo de amadurecimento criativo. Ainda que se apresente ao público como uma obra de essência contemplativa, mergulhando em pequenas desilusões e conflitos particulares de Loon, difícil não se deixar conduzir pela força dos versos e experiências compartilhadas ao longo do disco, fazendo da estreia de Tanukichan um trabalho que convida o ouvinte a se perder dentro dele.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.