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Ano: 2018

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Ambient

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Tim Hecker

Ouça: MMXIX e Tahoe

7.5
7.5

Resenha: “Tahoe”, Dedekind Cut

Ano: 2018

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Ambient

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Tim Hecker

Ouça: MMXIX e Tahoe

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2018

Pode um trabalho parecer tão grandioso e mágico mesmo no minimalismo e parcial silenciamento de suas composições? Basta uma audição minuciosa do atmosférico Tahoe (2018, Kranky), segundo e mais recente álbum de inéditas de Fred Warmsley como Dedekind Cut, para perceber como esse turbilhão de experiências, muitas delas “opositoras”, parece servir de base para o fortalecimento de uma obra que se movimenta e cresce desmedida.

Convite ao incerto, o trabalho de oito faixas e pouco mais de 50 minutos de duração amplia significativamente parte do universo detalhado pelo artista californiano durante a produção do maduro $uccessor (2016). São ambientações etéreas, fragmentos eletrônicos e pequenas desconstruções estéticas, como se Warmsley resgatasse parte do som abstrato que vem sendo produzido há mais de uma década como Lee Bannon, seu principal projeto autoral.

Dividido entre composições extensas, com mais de 10 minutos de duração, e atos curtos, sempre sensíveis, Tahoe faz de cada fragmento do álbum um objeto de merecido destaque. Se em instantes o produtor arrasta o ouvinte para dentro do mesmo ambiente criativo de Julianna Barwick e Grouper, vide a serenidade de Equity, com The Crossing Guard, canção seguinte, paredes de sintetizadores detalham um mundo de texturas e transformações.

Homogêneo, porém, nunca repetitivo e arrastado, Tahoe, da mesma forma que em $uccessor, detalha pequenos atos instrumentais que mostram a profunda versatilidade de Warmsley. Exemplo disso está nas camadas de ruídos quase inaudíveis de MMXIX, ambientações “borbulhantes” e sintetizadores que parecem dialogar com a obra de Oneohtrix Point Never. Um som tão colorido e doce, quanto assustador e sombrio, capaz de bagunçar a experiência do ouvinte.

Entre cantos de pássaros, ruídos sobrepostos e melodias sujas, Tahoe encanta pela forte dramaticidade que rege a obra. Ainda que De-Civilization seja o principal exemplo disso, efeito da lenta construção dos elementos, sobram composições em que texturas soturnas se convertem em expressões da completa melancolia do artista. A própria Hollow Earth, com mais de 12 minutos de duração, convida o ouvinte a se perder em uma estranha narrativa instrumental, como confissões silenciosas de Warmsley.

Típico caso de uma obra feita para ser desvendada aos poucos, Tahoe parece maior a cada nova audição. São camadas de temas atmosféricos que se transformam durante toda a execução do registro. A diferença em relação ao material apresentado no último álbum está na forte aproximação e senso de completude gerado entre as faixas. São variações de um mesmo conjunto acinzentado de experiências, como oito blocos de puro invento que se amarram em um experimento único.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.