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Críticas

Juliana R.

: "Tarefas Intermináveis"

Ano: 2017

Selo: A Onda Errada

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Karina Buhr, Nuven

Ouça: Energia, Reunião Inútil

7.7
7.7

Resenha: “Tarefas Intermináveis”, Juliana R.

Ano: 2017

Selo: A Onda Errada

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Karina Buhr, Nuven

Ouça: Energia, Reunião Inútil

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2017

Entre versos cantados em inglês, português e espanhol, e melodias que pareciam flertar com o reggae, pop, folk e música latina, Juliana R. fez do primeiro álbum em carreira solo uma obra de possibilidades. Sem necessariamente fixar residência em um gênero ou tema específico, a cantora e compositora paulistana parecia testar os próprios limites. Versos e temas confessionais, vide Desde Que Cheguei e Vou Ver, De Repente, conceito parcialmente rompido dentro do recém-lançado Tarefas Intermináveis (2017, A Onda Errada).

Primeiro registro de inéditas em sete anos, o trabalho produzido, mixado e masterizado por Paulo Beto distancia completamente a artista do ambiente ensolarado que marca o primeiro álbum de estúdio. Mergulhada em temas eletrônicos, sintetizadores e batidas tortas, R. surge niilista, fria, quase robótica. Uma criativa desconstrução de tudo aquilo que foi incorporado no trabalho de 2010, como se uma nova artista fosse apresentada ao público.

Um corpo sem alguém / Sem alguém não é válido / Um corpo sem alguém / Sem alguém é um fracasso“, canta com sobriedade na inaugural Energia, um indicativo da poesia minimalista que abastece o disco. Versos secos, por vezes robóticos, como um complemento ao ruído acinzentado que preenche o trabalho. Distante da poesia confessional do último álbum, letras que servem de suporte às batidas. Rimas e sobreposições instrumentais, como se arranjos e vozes fossem parte de um mesmo elemento.

Em Pa ra da, terceira faixa do disco, uma extensão segura da mesma poesia minimalista que orienta o trabalho. “Acho as palavras / Mas elas me escapam / Mesmo agitada / Continuo parada“, canta enquanto sintetizadores sujos, batidas e ruídos crescentes se espalham ao fundo da canção. Brincando com as palavras e trechos do poema Fala, de Orides Fontela, R. e o parceiro Beto reforçam o mesmo conceito na experimental Cruel, sexta composição do álbum — “Tudo será / Difícil de dizer / Tudo será capaz / De ferir / Toda palavra é cruel / Toda palavra é“.

Instável, o trabalho ainda se abre para a construção de pequenas brechas instrumentais marcadas pela completa ruptura. É o caso de Reunião Inútil, música que flerta com a mesma eletrônica incorporada pelo The Knife em Silent Shout (2006). Instantes em que a voz da cantora desaparece por completo, valorizando a fina colagem de sons. A mesma composição instável se repete em Nard, música que utiliza de captações caseiras, chiados e fragmentos de vozes como um estímulo para a canção.

Movido pela incerteza, Tarefas Intermináveis faz de cada composição um objeto curioso, sempre experimental, torto. Da minimalista imagem de capa, trabalho que conta com a assinatura de Cassius A., passando pela colisão de fórmulas instáveis, samples, ruídos e melodias eletrônicas, Juliana R. não apenas amplia o universo autoral originalmente apresentado no primeiro álbum de estúdio, como assume uma nova postura criativa. Depois de sete anos de espera e expectativa, um retorno claramente marcado pela surpresa.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.