Resenha: “Teens of Denial”, Car Seat Headrest

/ Por: Cleber Facchi 25/05/2016

Artista: Car Seat Headrest
Gênero: Indie Rock, Alternative, Rock
Acesse: https://carseatheadrest.bandcamp.com/

 

Guitarras sujas que atravessam a discografia do Guided By Voices e tropeçam na obra do Yo La Tengo. Versos irônicos, tão íntimos de Stephen Malkmus quanto das canções do Belle and Sebastian. O canto melódico The New Pornographers em contraste ao grito seco de Ted Leo and the Pharmacists. Delírios de um registro assinado por diferentes nomes da cena independente norte-americana? Longe disso. Em Teens of Denial (2016, Matador), novo álbum Car Seat Headrest, fragmentos criativos vindos de diferentes décadas e cenários servem como estímulo para a construção de uma obra tão intensa e versátil quanto trabalhos produzidos na década de 1990 e começo dos anos 2000.

Entregue ao público poucos meses após o lançamento de Teens of Style (2015), obra que apresentou oficialmente o trabalho do grupo comandado por Will Toledo, o registro de 12 composições extensas mostra a capacidade da banda em brincar com as referências sem necessariamente perder a própria essência musical. Canções que poderiam se encontradas em obras de artistas como Beck (Drunk Drivers / Killer Whales) e Pixies (Just What I Needed / Not Just What I Needed), mas que acabam encantando pela poesia descompromissada e guitarras sempre vivas de Toledo.

Musicalmente desafiador, Teens of Denial, diferente do trabalho entregue em 2015, revela ao público todo seu potencial logo na sequência de abertura. São três composições – Fill in the Blank, Vincent e Destroyed by Hippie Powers – em que Toledo e os parceiros Ethan Ives, Andrew Katz e Seth Dalby parecem arremessar o ouvinte para todas as direções. Recortes, batidas crescentes, mudanças bruscas de ritmo, ruídos, gritos e instantes de pura sutileza melódica. A mesma esquizofrenia (controlada) de clássicos como Crooked Rain, Crooked Rain (1994) e Alien Lanes (1995).

Movido pela mesma urgência de grupos como Fucked Up e Titus Andronicus, Toledo finaliza uma obra que mantém a atenção do ouvinte em alta mesmo em canções arrastadas, caso da extensa The Ballad of the Costa Concordia, com mais de 11 minutos de duração. Um permanente ziguezaguear de ideias e arranjos flexíveis, como se grande parte do material produzido de forma caseira pelo músico nos últimos fosse adaptado e polido para o presente disco. Cuidado evidente em cada nota ou ruído sujo de guitarra, mas que acaba seduzindo o ouvinte na criativa composição dos versos.

Sexta-feira passada eu tomei ácido e cogumelos / Não transcendi / Me senti merda”, canta na divertida (Joe Gets Kicked Out of School For Using) Drugs With Friends (But Says This Isn’t a Problem), quarta faixa do disco e uma espécie de síntese da lisergia jovial e cômica que lentamente preenche o disco. Versos que discutem a melancolia que surge ao final de cada festa – caso de Drunk Drivers/Killer Whales – ou simplesmente transformam os conflitos sentimentais de Toledo em composições que dialogam com o próprio ouvinte – vide Unforgiving Girl (She’s Not An) e The Ballad of the Costa Concordia. Letras sempre desinteressadas, irônicas e descritivas, como se compositor transformasse em música todo e qualquer recorte cotidiano.

Com base nessa proposta, Teens of Denial sobrevive como um trabalho tão íntimo de clássicos do rock alternativo dos anos 1990, como de uma infinidade de obras recentes. O mesmo canto bêbado e som torto que invade o material de grupos como Parquet Courts e OUGHT. Versos que detalham as noites de excessos de personagens sempre desinteressados, frios. Um retrato cômico e ao mesmo tempo pessimista da vida de qualquer jovem adulto.  

 

Teens of Denial (2016, Matador)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Parquet Courts, Frankie Cosmos e Cymbals Eat Guitars
Ouça: Fill in the Blank, Vincent e Drunk Drivers/Killer Whales

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.