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Críticas

How To Dress Well

: "The Anteroom"

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: R&B, Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Autre Ne Veut

Ouça: Body Fat e Nonkilling 6 | Hunger

7.0
7.0

Resenha: “The Anteroom”, How To Dress Well

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: R&B, Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Autre Ne Veut

Ouça: Body Fat e Nonkilling 6 | Hunger

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2018

Em um lento processo de refinamento estético, Tom Krell foi da atmosfera enevoada que embala as canções de Love Remains (2010) para o som plástico e naturalmente acessível de Care (2016). Um permanente exercício de reinterpretação conceitual que passa por dois dos principais trabalhos do músico norte-americano como How To Dress Well, Total Loss (2012) e “What Is This Heart?” (2014), indicando o desejo do permanente desejo do artista de Boulder, Colorado, em avançar criativamente.

Quinto álbum de inéditas na carreira de Krell, The Anteroom (2018, Domino) talvez seja o trabalho em que o produtor norte-americano mais se distancia desse universo, como o início de um novo capítulo na discografia de How To Dress Well. São pouco menos de 60 minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um território de pequenas incertezas, esbarrando em colagens eletrônicas, sintetizadores e vozes carregadas de efeito que mudam de direção a todo instante, resultando em uma interpretação torta de tudo aquilo que vem sendo explorado desde Love Remains.

Exemplo disso está na faixa de abertura do disco, Humans Disguised as Animals | Nonkilling 1. São duas composições isoladas, mas que se entrelaçam de forma a convergir em um experimento único. Ambientações sujas, vozes carregadas de efeitos, ruídos e rupturas estéticas que alcançam um resultado ainda menos óbvio nas abstrações de Nonkilling 3 | The Anteroom | False Skull 1 e A Memory, The Spinning of a Body | Nonkilling 2.

A própria imagem de capa do disco parece sintetizar com naturalidade parte da atmosfera que orienta e experiência do ouvinte em The Anteroom. Uma composição acinzentada e congelante, conceito que se reflete com naturalidade no interior de músicas como Vacant Boat e July 13 No Hope No Pain, faixas em que Krell transforma o próprio isolamento no principal componente criativo dos versos e ambientações eletrônicas.

Dos poucos momentos em que dialoga com os antigos trabalhos, principalmente o maduro “What Is This Heart?”, Krell emociona o ouvinte sem grandes dificuldades. É o caso de Body Fat, música guiada pelos habituais falsetes do músico norte-americano e um exercício de profunda vulnerabilidade poética. Um permanente estado de melancolia que se reflete ainda em canções como Love Means Taking Action e a derradeira Nothing, faixa que soa como um estranho cruzamento entre Nine Inch Nails e o Radiohead pós-Kid A (2000).

Inspirado de maneira confessa na obra de Coil, Prurient, Gas e Grouper, além, claro, de ter sido concebido em parceria com o experiente Joel Ford, artista que já trabalhou ao lado de nomes como Oneohtrix Point Never, The Anteroom nasce como um produto involuntário da mudança de Krell para a cidade de Los Angeles, há dois anos. Canções guiadas pelo isolamento e abandono do eu lírico, resultando em uma nova interpretação da poesia triste que há tempos vem sendo explorada pelo músico.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.