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Críticas

Ben Frost

: "The Centre Cannot Hold"

Ano: 2017

Selo: Mute

Gênero: Experimental, Drone, Ambient

Para quem gosta de: The Haxan Cloak e Tim Hecker

Ouça: A Sharp Blow In Passing e Ionia

8.0
8.0

Resenha: “The Centre Cannot Hold”, Ben Frost

Ano: 2017

Selo: Mute

Gênero: Experimental, Drone, Ambient

Para quem gosta de: The Haxan Cloak e Tim Hecker

Ouça: A Sharp Blow In Passing e Ionia

/ Por: Cleber Facchi 05/10/2017

Passado o lançamento do obscuro A U R O R A (2014), Ben Frost decidiu dar continuidade ao som desbravado no terceiro álbum de estúdio. O resultado está em uma sequência de obras marcadas pelo uso atmosférico dos ruídos, conceito reforçado durante a produção do complementar V A R I A N T, EP entregue ao público meses mais tarde, ou mesmo nas trilhas sonoras de The Wasp Factory (2016) e, mais recentemente, em Threshold of Faith (2017).

Evidente continuação do material apresentado há três anos por Frost, The Centre Cannot Hold (2017, Mute) traz de volta a mesma atmosfera claustrofóbica detalhada em A U R O R A, porém, ampliando a imensa carga de ruídos e experimentos sujos que alimentam a obra do produtor australiano. Uma verdadeira massa de sons intransponíveis, distorções, camadas e colagens atmosféricas que parecem pensadas para sufocar o ouvinte do primeiro ao último instante do trabalho.

Produzido em parceria com o experiente Steve Albini, veterano da cena alternativa dos Estados Unidos que já trabalhou com nomes como Nirvana e Pixies, o registro de dez faixas e exatos 50 minutos de duração parece jogar com os instantes. Ao mesmo tempo em que brinca com o uso (des)controlado dos ruídos e massas de distorção, Frost e o parceiro estabelecem pequenas brechas que funcionam como um respiro necessário para o fortalecimento da obra.

Perfeita representação desse conceito sobrevive na instável A Sharp Blow In Passing. Em meio a blocos instrumentais e temas eletrônicos que dialogam com a obra de Oneohtrix Point Never, Frost cria pequenos desníveis que transportam o ouvinte para um novo ambiente de emanações brandas, como uma fuga de possíveis excessos. Nona faixa do disco, All That You Love Will Be Eviscerated é outra que explora a mesma estrutura, borbulhando melodias etéreas, mágicas.

No restante da obra, o evidente esforço de Frost e Albini em produzir um material essencialmente catártico, maior e mais complexo a cada nova audição. Basta observar a grandiosidade de faixas como Ionia, música que parece saída da trilha sonora de um filme de terror, ou mesmo Eurydice’s Heel, composição que se espalha em meio a batidas abafadas, como um remix do som produzido pelo britânico The Haxan Cloak no soturno Excavation (2013).

Minucioso, caótico, delicado e expansivo na mesma proporção, The Centre Cannot Hold, como tudo aquilo que Frost vem produzindo desde o amadurecimento em By the Throat (2009), é um trabalho que parece feito para que o ouvinte se perca entre as canções. São texturas eletrônicas, camadas de ruídos e sobreposições industriais que ocultam detalhes a cada novo fragmento instrumental, detalhando um universo de experiências improváveis, a serem lentamente desvendadas pelo ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.