Resenha: “The Colour In Anything”, James Blake

/ Por: Cleber Facchi 11/05/2016

Artista: James Blake
Gênero: Soul, R&B, Electronic
Acesse: http://jamesblakemusic.com/

 

Livre dos experimentos e da eletrônica torta explorada no primeiro registro de estúdio, em 2013, com o lançamento de Overgrown, James Blake abraçou de vez a relação com o soul/R&B. Do canto melancólico que cresce em músicas como Retrograde e Life Round Here ao uso delicado das batidas e vozes, cada faixa do segundo álbum de inéditas do cantor e produtor britânico confirma a busca por um som descomplicado, acessível aos mais variados públicos, preferência que se reforça com o terceiro e mais recente trabalho do produtor, o extenso The Colour in Anything (2016, 1-800 Dinosaur / Polydor).

Produzido em um intervalo de dois anos, entre 2014 e 2016, o registro de 17 faixas e quase 80 minutos de duração chega até o público como o trabalho mais sensível, maduro e intimista de Blake. A cada curva do trabalho, um novo lamento solitário. Versos que mergulham em conflitos sentimentais (Love Me in Whatever Way), declarações de amor (Always) e tormentos (My Willing Heart) que confirmam a versatilidade do jovem artista -– possivelmente o maior soulman britânico da presente década.

Em boa fase – Drake e Beyoncé estão entre os artistas com quem Blake trabalhou recentemente –, o produtor encara The Colour in Anything como uma obra de limites bem definidos, por vezes claustrofóbica. Do uso “instrumental” da voz -– base de grande parte das canções –, passando pela inserção de ruídos atmosféricos e pianos marcados pelo completa melancolia dos temas – vide Modern Soul –, cada uma das 17 faixas do disco parecem afogadas dentro de uma mesma base sorumbática. A constante sensação de que Blake decidiu ampliar o som inicialmente testado em músicas como Digital Lion e Vouyer do trabalho anterior.

Ao mesmo tempo em que estabelece as regras para a produção de um material conceitualmente restrito, sufocante, curioso notar como Blake brinca com as possibilidades em diversas canções ao longo da obra. Em Timeless, por exemplo, bases e batidas inicialmente contidas se abrem para a interferência direta de sintetizadores propositadamente instáveis e dançantes. Sétima faixa do disco, I Hope My Life – 1-800 Mix é outra que transita pelo mesmo terreno, costurando temas eletrônicos que poderiam facilmente ser encontrados nos primeiros singles do artista.

Mesmo de essência solitária, conceito explícito na forma como os arranjos e versos são explorados ao longo do disco, The Colour in Anything se projeta como o trabalho em que o cantor mais dialoga com outros artistas. De um lado, a poesia angustiada de Frank Ocean -– colaborador em My Willing Heart e Alway -–, no outro, as melodias de Justin Vernon (Bon Iver) – convidado a cantar em I Need a Forest Fire e parceiro na derradeira Meet You in the Maze. Quem também aparece é o produtor Rick Rubin, com quem Blake colaborou em estúdio nos Estados Unidos. Um time controlado de artistas responsáveis por potencializar o canto triste de Blake.

Centrado na completa exposição do cantor, o sucessor de Overgrown talvez seja o trabalho em que o ouvinte mais se relaciona com a poesia intimista do compositor inglês. “Onde você me levar eu vou … Me ame de qualquer maneira“, canta o personagem de Love Me In Whatever Way, música que revela com naturalidade o eu lírico desesperado que corre no interior das faixas. Em f.o.r.e.v.e.r., a clara percepção de que passado e presente se movimentam de forma instável e tumultuada pelo disco: “Enquanto você estava fora, eu comecei a te amar“. Sussurros melancólicos tão íntimos de Blake quanto do próprio ouvinte, lentamente transportado para o mundo em preto e branco que cresce no interior do disco.

 

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The Colour in Anything (2016, 1-800 Dinosaur / Polydor)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Frank Ocean, Bon Iver e Jamie XX
Ouça: Timeless, I Need a Forest Fire e Modern Soul

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.