Image
Críticas

Shopping

: "The Official Body"

Ano: 2018

Selo: Fat Cat

Gênero: Pós-Punk, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Ought e Parquet Courts

Ouça: Control Yourself e The Hype

8.0
8.0

Resenha: “The Official Body”, Shopping

Ano: 2018

Selo: Fat Cat

Gênero: Pós-Punk, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Ought e Parquet Courts

Ouça: Control Yourself e The Hype

/ Por: Cleber Facchi 30/01/2018

Um dos principais problemas causados pela massificação de artistas inclinados a reciclar a estética do pos-punk inglês e nova-iorquino no final dos anos 1970 está na profunda repetição de ideias. Trabalhos quase padronizados e demasiado óbvios, tamanha simplicidade na formatação dos arranjos e até mesmo dos versos. Composições vendidas sob o argumento da postura descompromissada do gênero, mas que na verdade escancaram o despreparo/incapacidade de seus realizadores.

Não é o caso do Shopping. Composto pela guitarrista Rachel Aggs, o baixista Billy Easter e o baterista Andrew Milk, o trio londrino passou grande parte dos últimos anos se aventurando na produção do um som marcado pela versatilidade e vívido cuidado na composição dos arranjos. Um contínuo exercício de amadurecimento que alcançou a maturidade durante o lançamento de Why Choose, em 2015, mas que volta a se repetir na produção do terceiro e mais recente álbum de inéditas da banda: The Official Body (2018, Fat Cat).

Dividido entre o explicito desejo da banda em fazer o ouvinte dançar e a necessidade em provocar o debate político — principalmente temas voltados ao governo Donald Trump e o impacto do Brexit —, The Official Body parece jogar com as possibilidades. São composições que refletem a permanente angústia do eu lírico dentro desse cenário caótico, conceito detalhado de forma explícita no jogo de palavras que cresce em Discover — “Você ainda está sozinho / Ainda desesperado … Eu não estou sozinho / Estou bem / Eu não estou sozinho / Estou bem“.

De fato, a constante “repetição” na montagem dos versos acaba servindo de base para a atmosfera que o trio busca ressaltar ao longo da obra. Ao mesmo tempo em que a marcação poética em uma estrutura cíclica convida o ouvinte a dançar, vide a arquitetura de Wild Child, ao mergulhar em temas urbanos e existencialistas, esse mesmo conceito parece sufocar o ouvinte. Exemplo disso está na dualidade dos versos em Control Yourself, música que encolhe e cresce a todo instante, como uma espiral perturbadora que arrasta o público para dentro dela.

Importante notar que mesmo quando se volta para a construção de um som invasivo, caótico, The Official Body em nenhum momento parece perder o controle, sufocando a fina base instrumental que tanto define a identidade da banda. Do momento em que tem início, em The Hype, até alcançar a derradeira Overtime, canção que flerta com o math rock, perceba como cada instrumento ganha uma posição de destaque, mostrando a evolução do trio desde a estreia com Consumer Complaints (2013).

É justamente essa limpidez e cuidado na formação do registro que sutilmente afasta o trio britânico de outros projetos recentes como OUGHT e Preoccupations. Uma forma criativa de interpretar e adaptar parte do material produzido há mais de quatro décadas por nomes como Wire, Gang of Four, Magazine e tantos outros artistas que continuam a servir de inspiração para diferentes representantes da cena alternativa, poucos tão relevantes e criativos quanto os integrantes do Shopping.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.