Resenha: “The Ride”, Nelly Furtado

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2017

Artista: Nelly Furtado
Gênero: Indie Pop, R&B, Pop
Acesse: https://www.nellyfurtado.com/

 

Em mais de duas décadas de carreira, Nelly Furtado acabou encontrando no uso de pequenas rupturas instrumentais a base para a formação de uma discografia essencialmente versátil. Do soul-pop-folk que abastece os inaugurais Whoa, Nelly! (2000) e Folklore (2003), passando pelo Hip-Hop de Loose (2006), a música latina no caloroso Mi Plan (2009), até o regresso ao R&B em The Spirit Indestructible (2012), não faltam obras marcadas pela criativa apropriação de diferentes ritmos e fórmulas musicais.

Sexto e mais recente álbum de inéditas da cantora e produtora canadense, The Ride (2017, Nelstar) não apenas aproxima Furtado de um novo universo de possibilidades, como ainda resgata uma série de elementos originalmente testados nos primeiros trabalhos da artista. Canções que passeiam pelo mesmo indie pop/synthpop de artistas como Sky Ferreira, HAIM e Carly Rae Jepsen sem necessariamente perder a essência comercial que acompanha Furtado desde o começo dos anos 2000.

Produzido em parceria com John Congleton, o registro de 12 faixas adapta grande parte dos elementos testados pelo músico em uma série de obras lançadas nos últimos anos. Difícil ouvir as guitarras de Right Road e não lembrar de St. Vincent, artista que trabalhou com Congleton no elogiado disco de 2014. Na derradeira Phoenix, um som etéreo, delineado por temas eletrônicos, talvez íntimo de artistas como Anna Calvi e Goldfrapp, colaboradores recentes do produtor norte-americano.

Radiante, The Ride mostra a capacidade de Furtado em jogar com diferentes possibilidades a cada nova curva do disco. Em Flatline, segunda composição do trabalho, guitarras e sintetizadores que acabam servindo de alicerce para o refrão explosivo da canção. Na delicada Pipe Dreams, um R&B empoeirado, íntimo do mesmo som produzido por artistas como Ariel Rechtshaid e Blood Orange, esse último, parceiro da cantora em Hadron Collider, parte do excelente Freetown Sound (2016).

Em Live, quarta faixa do disco, a representação do lado mais pop e inventivo de Furtado. Entre guitarras e sintetizadores que parecem resgatados da década de 1980, uma letra montada para grudar na cabeça do ouvinte – “Eu não quero viver, eu não quero viver / Tendo o que preciso e nunca o que quero / Porque eu não quero / Mas eu quero você”. Um cuidado que se reflete na dobradinha Paris Sun e Sticks and Stones, composições que reforçam a completa interferência de Congleton na composição dos arranjos.

Pop sem necessariamente parecer descartável, The Ride enche os ouvidos logo em uma primeira audição. Extensão segura do material apresentado em The Spirit Indestructible – obra que contou com a presença de nomes como Michael Angelakos (Passion Pit) e Salaam Remi (Amy Winehouse) –, o registro encanta e cresce a cada nova audição. Um bem-servido cardápio de hits que tem início em Cold Hard Truth e sobrevive para além do último verso de Phoenix.

 

The Ride (2017, Nelstar)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Gwen Stefani, Carly Rae Jepsen e HAIM
Ouça: Live, Pipe Dreams e Flatline

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.