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Críticas

Bike

: "Their Shamanic Majesties' Third Request"

Ano: 2018

Selo: Quadrado Mágico

Gênero: Rock Psicodélico, Dream Pop

Para quem gosta de: Boogarins e Tagore

Ouça: Chá, Ingá, e Nuvem

8.4
8.4

Resenha: “Their Shamanic Majesties’ Third Request”, Bike

Ano: 2018

Selo: Quadrado Mágico

Gênero: Rock Psicodélico, Dream Pop

Para quem gosta de: Boogarins e Tagore

Ouça: Chá, Ingá, e Nuvem

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2018

Sonhei / Não quero acordar“. Embora curto, o fragmento poético encaixado em Chá, quarta faixa de Their Shamanic Majesties’ Third Request (2018, Quadrado Mágico), parece dizer muito sobre o conceito onírico detalhado pelos integrantes da Bike no terceiro e mais recente álbum de inéditas da banda. Trata-se de um claro delírio transformado em música, como se do universo explorado no antecessor Em Busca da Viagem Eterna (2017), o grupo paulista fosse capaz de ir além. Muito além.

Econômico quando próximo do material testado nos dois primeiros álbuns de estúdio, principalmente, 1943 (2015), TSMTR ganha forma aos poucos, sem pressa. São ambientações etéreas, sem-acústicas, vozes submersas e ruídos sutilmente orquestrados por cada integrante da banda — em estúdio, completa pelos músicos Julito Cavalcante (guitarra e voz), Diego Xavier (guitarra, voz e viola caipira), Daniel Fumega (bateria e percussão), João Gouvea (Voz, baixo e viola caipira) e Brenno Balbino (Sintetizadores).

Interessante pensar que tamanha leveza e cuidado na composição dos arranjos em nada reflete o pouco tempo que o grupo teve para finalizar o disco. Foram pouco menos de três meses. Isso sem mencionar que alguns dos integrantes da banda acabaram investindo em outros projetos, como o guitarrista Diego Xavier, em DX3 (2017). De fato, difícil não pensar no álbum como uma fuga de todo e qualquer excesso, como a passagem para um ambiente acolhedor, mágico, talvez um refúgio conceitual que se abre para a chegada de cada ouvinte/explorador.

Parte expressiva da leveza que rege o disco se reflete na forma como o trabalho foi concebido. “Desde novembro [do último ano] voltamos a morar no interior, isso nos deu mais tempo e liberdade, as músicas surgiram depois desse retorno, compomos e produzimos tudo com calma“, resume o texto de apresentação da obra. O resultado está na composição de faixas essencialmente bucólicas e escapistas, como a doce Aroeira e Voo / Pássaro. Mesmo a escolha dos instrumentos, como sintetizadores e violas caipiras, interfere diretamente na estrutura do álbum, resultando em um trabalho marcada pelo uso de temas atmosféricos, sempre brando.

Dentro desse ambiente tão particular quanto convidativo, dois representantes da cena brasileira contribuem de forma substancial para o colorido psicodélico do grupo paulista. Em Ingá, terceira faixa do disco, um caminho aberto para a passagem do veterano Pedro Bonifrate (ex-Supercordas), dono do canto que serve de complemento à breve criação. Para o encerramento do disco, na cósmica Cavalo, o músico pernambucano Tagore Suassuna deixa que a voz se espalhe em uma cama de sons tão viajantes quanto o material apresentado por ele próprio em Pinel (2016).

Com título inspirado de maneira confessa em obras como Their Satanic Majesties Request (1967), dos Rolling Stones, e Their Satanic Majesties’ Second Request (1996), do grupo Brian Jonestown Massacre, o terceiro álbum do Bike nasce como verdadeira prova da contínua transformação do grupo paulista. São pouco mais de 30 minutos em que o ouvinte parece flutuar em uma nuvem de pequenas possibilidades, sussurros e temas melódicos. Para além das tradicionais guitarras e vozes carregadas de efeito, um convite a se perder em um universo completamente novo, ainda em formação.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.