Image
Críticas

Yo La Tengo

: "There’s A Riot Going On"

Ano: 2018

Selo: Matador

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Superchunk e Dinosaur Jr.

Ouça: For You Too e She May, She Might

8.1
8.1

Resenha: “There’s A Riot Going On”, Yo La Tengo

Ano: 2018

Selo: Matador

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Superchunk e Dinosaur Jr.

Ouça: For You Too e She May, She Might

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2018

Há dois anos, Georgia Hubley, Ira Kaplan e James McNew celebraram o lançamento do primeiro álbum de estúdio do Yo La Tengo, Ride the Tiger (1986). Concebido há mais de três década, o registro que apresentou o trabalho da banda de Nova Jersey parece ecoar a cada novo álbum de inéditas do trio, talvez em uma estrutura menos urgente, climática, porém, ainda assim íntima dos mesmos temas melódicos e versos confessionais que serviram de base para toda a sequência de obras que viriam a ser produzidas pelo grupo.

Exemplo disso está nas canções de There’s a Riot Going On (2018, Matador), 15º registro de estúdio do grupo norte-americano e primeiro trabalho de inéditas passado o lançamento da coletânea Stuff Like That There (2015), obra em que o trio decidiu revisitar antigas composições, além, claro, de músicas originalmente assinadas por outros artistas. Trata-se de uma obra extensa, pouco mais de 60 minutos em que cada fragmento do disco parece seguir em uma medida própria de tempo, sem pressa.

Não por acaso, três da canções que recheiam o disco são atos instrumentais, entre elas, a inaugural You Are Here, um precioso indicativo da composição etérea que orienta grande parte do trabalho. São pinceladas eletro-acústicas que se espalham de forma serena, como em Shortwave, música que soa como um encontro entre Tim Hecker e Julianna Barwick, ou mesmo a curtinha Esportes Casual, faixa que curiosamente aproxima o trabalho do Yo La Tengo da bossa nova e outros ritmos brasileiros.

Mesmo quando a voz ganha forma, corrompendo com o parcial isolamento climático do registro, There’s a Riot Going On em nenhum momento ultrapassa o conceito brando detalhado logo nos primeiros segundos. São canções de amor, versos angustiados, medos e desilusões que protegem dentro de uma estrutura própria, sempre sensível e acolhedora. Basta voltar os ouvidos para músicas como Dream Dream Away, Shades of Blue e She May, She Might para perceber o cuidado do trio na montagem de cada fragmento instrumental e poético.

Dos poucos momentos em que sutilmente rompe com essa leveza, como em For You Too, perceba como cada elemento do disco se dobra de forma a conduzir o ouvinte pelo interior de um campo hipnótico. São guitarras sujas, batidas e vozes tratadas de forma essencialmente melódica. Um som minucioso, raro, como um resgate criativo de obras como I Can Hear the Heart Beating as One (1997) e And Then Nothing Turned Itself Inside-Out (2000), dois dos principais álbuns já produzidos pelo grupo.

Concebido em meio a camadas de profunda leveza, sobreposições atmosféricas e sussurros poéticos, There’s a Riot Going On, assim como o trabalho que o antecede, Fade (2013), exige uma audição atenta por parte do ouvinte. São bases embriagadas que se dissolvem em meio a arranjos semi-psicodélicos, como um imenso labirinto de experiências que se abre para a chegada do ouvinte. Uma obra minuciosa, reflexo do completo esmero e experiência acumulada pelos integrantes da banda nos últimos 30 anos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.