Resenha: “Todas As Brisas”, Lê Almeida

/ Por: Cleber Facchi 19/10/2016

Artista: Lê Almeida
Gênero: Indie Rock, Lo-Fi, Rock Psicodélico
Acesse: https://lealmeida.bandcamp.com/

 

Em março deste ano, com o lançamento de Mantra Happening (2016), Lê Almeida assumiu de vez a mudança de direção iniciada com o antecessor Paraleloplasmos (2015). Entre composições extensas – como Oração de Noite Cheia, com mais de 15 minutos de duração –, a busca declarada do músico fluminense (e seus parceiros de banda) pela construção de um som cada vez mais complexo, por vezes experimental, e movido em essência pela psicodelia.

Poucos meses após o lançamento do trabalho, o cantor e compositor está de volta com um novo álbum de inéditas. Em Todas As Brisas (2016, Transfusão Noise Records) – também título de uma exposição com as colagens de Almeida –, um claro aperfeiçoamento das melodias e ambientações cósmicas exploradas no último registro do músico. Dez faixas levemente empoeiradas que oscilam entre delírios psicodélicos, ruídos e versos orientados por uma poesia descomplicada.

Menos “denso” em relação ao som produzido há poucos meses, o novo trabalho mostra a busca de Almeida e os parceiros João Casaes (guitarra), Bigú Medine (baixo) e Joab Régis (bateria e voz) pela construção de um material essencialmente leve, hipnótico – pelo menos nos momentos iniciais. São pouco mais de 40 minutos em que guitarras e batidas compactas passeiam sem pressa ao fundo do disco, criando um delicado pano de fundo para a voz “instrumental”, sempre contida do vocalista.

Com Rolezin como faixa de abertura do disco, o quarteto aponta a direção seguida em grande parte da obra. São pouco mais de sete minutos de duração em que melodias nostálgicas, inserções lisérgicas e pequenas doses de distorção se moldam de forma a atender as exigências da banda. Uma constante sensação de que Almeida decidiu prender fatias aleatórias de diferentes canções dentro de uma única composição, proposta anteriormente incorporada em Mantra Happening.

No interior de canções mais curtas, caso de Meditação Oracular, terceira faixa do disco, o explícito domínio do músico fluminense em relação ao diálogo com a música pop. Arranjos e versos que chegam até o público livres de possíveis bloqueios. Em atos extensos, como na própria faixa-título do álbum, o espaço aberto aos experimentos de Almeida. Um imenso labirinto instrumental, como se o quarteto testasse os próprios limites dentro de estúdio.

Costurado pelo uso de pequenas vinhetas, caso de Depois a Gente Dorme e Quebrante Das Ondas, Todas as Brisas reserva para os instantes finais algumas das canções mais intensas de toda a extensa discografia de Lê Almeida. Músicas como a crescente Aflorado, um fino exercício do som psicodélico que se espalha ao longo do disco, e a raivosa Matinê Maruins, uma composição suja, “grunge”, como um precioso diálogo da banda com o rock produzido no começo dos anos 1990.

 

Todas as Brisas (2016, Transfusão Noise Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Wallace Costa, Ty Segall e LuvBugs
Ouça: Aflorado, Matinê Maruins e Meditação Oracular

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.