Resenha: “Too Many Voices”, Andy Stott

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2016

Artista: Andy Stott
Gênero: Experimental, Electronic, Techno
Acesse: http://modern-love.co.uk/

 

Andy Stott sempre se manteve distante de uma provável “zona de conforto”. Ainda que o produtor original de Manchester, Inglaterra, tenha explorada com regularidade as texturas do Dub Techno nos últimos cinco anos – vide registros como We Stay Together e Passed Me By –, em mais de uma década de atuação, Stott em nenhum momento pareceu seguir um caminho previsível, monótono, percepção que se reforça com o lançamento de Too Many Voices (2016, Modern Love).

Terceiro e mais recente trabalho do produtor desde que foi oficialmente apresentado ao público, em 2011, o presente álbum mostra um som ainda mais complexo e propositadamente irregular em relação ao material entregue no antecessor Faith in Strangers, de 2014. São nove composições inéditas que se projetam como verdadeiros experimentos, independentes, preferência que leva Stott a mergulhar em novas ambientações e gêneros, entre eles, o R&B.

Registro mais acessível desde o bem-sucedido Luxury Problems, de 2012, Too Many Voices pode ser resumido na fluidez melódica de Butterflies. Segunda faixa do disco, a canção escolhida para apresentar o trabalho sustenta na lenta manipulação dos vocais – assumidos pela velha colaboradora Alison Skidmore – a passagem para um universo completamente novo dentro da obra do produtor. Batidas controladas, versos essencialmente leves, melancólicos, estímulo para o delicado vídeo em parceria com o coreógrafo Rafael Chinx Martin.

A mesma sutileza instrumental, íntima dos trabalhos de Dev Heynes (Blood Orange), parece replicada em composições como New Romantic e First Night. Enquanto a primeira despeja uma solução de versos acolhedores, como uma resposta ao som frio incorporado pelo produtor no trabalho de 2014, na canção seguinte, quarta faixa do disco, Stott resgata de forma adaptada o mesmo som arrastado, metálico, que ocupa grande parte dos trabalhos apresentados no final da década passada.

No restante da obra, um verdadeiro ziguezaguear de ideias e conceitos tortos. Difícil não lembrar dos trabalhos de Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) em músicas ambientais como Forgotten e a inaugural Waiting For You. Em outras como Selfish e na própria faixa título do disco, uma pilha de ideias sobrepostas, como se diferentes recortes instrumentais fossem amarrados dentro de cada faixa. Vozes, sintetizadores, batidas, samples e texturas eletrônicas capazes de bagunçar a essência de Stott.

Claramente uma adaptação “pop” de elementos da própria discografia de Andy Stott, Too Many Voices talvez seja a melhor forma de apresentar o trabalho do produtor britânico ao “público médio”. O canto melódico em Butterflies e New Romantic, os experimentos controlados em Selfish e First Night, a atmosfera convidativa que se expande do primeiro ao último instante do trabalho. Uma sucessão de bases acolhedoras, como se cada faixa cercasse o ouvinte lentamente.

 

Too Many Voices (2016, Modern Love)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Actress, Objekt e Blood Orange
Ouça: Butterflies, New Romantic e Selfish

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.