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Críticas

Filipe Alvim

: "Tudo Pode Acontecer"

Ano: 2018

Selo: Pug Records

Gênero: Indie Rock, Lo-Fi, Dream Pop

Para quem gosta de: Boogarins, Tom Gangue e Duplodeck

Ouça: Chiclete e Tudo Pode Acontecer

7.8
7.8

Resenha: “Tudo Pode Acontecer”, Filipe Alvim

Ano: 2018

Selo: Pug Records

Gênero: Indie Rock, Lo-Fi, Dream Pop

Para quem gosta de: Boogarins, Tom Gangue e Duplodeck

Ouça: Chiclete e Tudo Pode Acontecer

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2018

Mesmo contido, o bom humor continua sendo o principal componente criativo da obra de Filipe Alvim. Dois anos após o lançamento do segundo álbum de estúdio da carreira, Beijos (2016), o cantor e compositor original de Juiz de Fora, Minas Gerais, está de volta com um novo registro autoral. Em Tudo Pode Acontecer (2018, Pug Records), versos contemplativos, desilusões amorosas, delírios lisérgicos e pequenos conflitos intimistas se entrelaçam de forma deliciosamente descompromissada, mágica,como um convite a se perder em um universo próprio do artista mineiro.

Concebido em parceria com Gabriel Guerra (Séculos Apaixonados), músico responsável pela produção, arranjos e instrumentos do disco, Tudo Pode Acontecer preserva a essência do último álbum de Alvim, porém, sutilmente aponta para uma nova direção. Trata-se de uma obra assumidamente estranha, como se o músico mineiro incorporasse da identidade artística do produtor carioca. Exemplo disso ecoa com naturalidade logo na abertura do disco, em Vou Parar, música que se espalha em meio a versos semi-declamados e melodias abafadas, como um indicativo do som produzido para o restante da obra.

Onde antes brotavam guitarras arrastadas, lembrando a obra de artistas como Mac DeMarco, hoje borbulham melodias sujas, vozes e diálogos involuntários com o rock alternativo produzido na primeira metade da década de 1990. O mesmo descompromisso explícito em músicas Miragem e Vida Sem Sentido, porém, partindo de uma nova estrutura. Do dream pop psicodélico que invade a faixa-título, colaboração com Dinho Almeida, da Boogarins, passando pela letargia cômica de É tão bom, cada composição do disco transporta o trabalho de Alvim para um novo território.

É partindo justamente desse claro desejo de mudança que Alvim entrega ao público uma das melhores canções do disco, a melancólica Cidade Alta. Entre inserções minimalistas da guitarra de Guerra, a poesia reflexiva ganha forma e cresce – “A hora chegou / Melhor acordar / A porta se abriu  / Pra nunca mais fechar / Uma vez mais / Conto até dez / Todos os dias / Até o fim“. Um preparativo para o rock leve que invade a faixa seguinte do disco, Nublado, música que poderia facilmente ser encontrada em algum disco da Barão Vermelho ou Os Paralamas do Sucesso no início da década de 1980.

Nada que se compare ao rock pegajoso de Chiclete. Com versos divididos com a cantora e compositora Samira Winter, a faixa marcada por boas guitarras ganha forma aos poucos, revelando ao público verdadeiros paredões de ruídos que soam como uma interpretação acessível do som produzido por estrangeiros como DIIV. A mesma energia se reflete na faixa de encerramento do disco, Quando Voltar Pra Casa, música que aponta para o passado, porém, preservando a mesma atmosfera de Beijos.

Pop e estranho na mesma proporção, Tudo Pode Acontecer, como o próprio nome indica, mostra a capacidade de Alvim em se adaptar dentro de estúdio. Sem necessariamente corromper a identidade conquistada durante o lançamento do último álbum de inéditas, cada composição do disco parece servir de passagem para um universo completamente novo, conceito que se reflete no refinamento melódico de música enérgicas, como Chiclete, ou mesmo nos instantes de maior recolhimento e leveza da obra, vide Cidade Alta e a delirante faixa-título. Ideias que se espalham em um campo marcado pela incerteza.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.