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Críticas

El Toro Fuerte

: "Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo"

Ano: 2016

Selo: Bichano Records

Gênero: Indie, Emo

Para quem gosta de: Lupe de Lupe, Jonathan Tadeu

Ouça: Mudança, João e o Mar,

8.0
8.0

Resenha: “Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo”, El Toro Fuerte

Ano: 2016

Selo: Bichano Records

Gênero: Indie, Emo

Para quem gosta de: Lupe de Lupe, Jonathan Tadeu

Ouça: Mudança, João e o Mar,

/ Por: Cleber Facchi 02/06/2016

 

Se a gente tivesse se conhecido quando era criança e fosse brincar de ciranda na casa da sua avó será que a gente percebia que a gente se dava bem?”. A poesia nostálgica da inaugural Se A Gente Tivesse Se Conhecido indica o tom melancólico que orienta grande parte do primeiro álbum de estúdio da banda mineira El Toro Fuerte. Depois de uma sequência de composições avulsas, o delicado Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo (2016, Bichano Records) marca a estreia do trio João Carvalho (vocais, guitarra, baixo), Gabriel Martins (bateria) e Diego Soares (baixo, guitarra, vocais).

São 10 canções marcadas pelo uso honesto de temas confessionais e existencialistas (Flagelo), histórias sobre romances fracassados (Mudança), além de um delicado passeio temático que tem início na adolescência (Se A Gente Tivesse Se Conhecido) e seque até o alvorecer da vida adulta (Quando seus pais). Uma imensa colcha de retalhos sentimentais que se espalha e envolve cada fragmento de voz presente no disco, delicado do primeiro ao último sussurro.

Íntimo do mesmo universo de artistas mineiros como Jonathan Tadeu e toda a nova geração de músicos mineiros, Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo encanta pela forma simples como os versos parecem dialogar com os tormentos de qualquer ouvinte. “Eu já pensei / Em me mudar daqui / Eu já não ouço mais / Seu coração batendo, afinal … Eu só posso esperar / Pelo dia em que você / Acorde sozinha“, canta de forma amargurada em Mudança, uma típica canção de separação e a base de grande parte do material que se estende até a derradeira Lembrar É Como Uma Roleta Russa.

Dividido entre o presente sóbrio e um passado ainda recente, durante toda a execução do trabalho, o trio mineiro joga com a instabilidade dos sentimentos. Se em instantes o eu lírico parece sufocar pela saudade (“será que você vai lembrar de mim?”), logo em seguida, o ouvinte é mergulhado em um cenário marcado pela aceitação (“Eu não tenho mais mágoa”). Uma tumultuada exposição, confusa em grande parte das canções, porém, íntima da incerteza de qualquer personagem romântico.  

Sempre densa, sufocante em alguns momentos, a base instrumental montada para o disco parece pensada de forma a reforçar o fino toque melancólico de cada canção. São guitarras que se espalham preguiçosas, sujas, ocupando o fundo do trabalho. Um meio termo entre o pós-rock que abasteceu a cena norte-americana no começo dos anos 1990 e o trabalho de gigantes como American Football e Mineral. Em João e o Mar, faixa mais extensa do disco, uma perfeita representação de todo o catálogo de referências da banda.

Deliciosamente amargo, Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo flutua com naturalidade entre a angústia e a libertação, o ódio e o amor, o acolhimento e o desespero. Não é difícil se identificar com cada fragmento lírico do trabalho, honesto a cada nova canção ou curva sentimental. Mais do que uma obra para uma rápida “degustação”, um registro que parece pensado para dialogar com diferentes fases e conflitos na vida de qualquer indivíduo.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.