Artista: Não Ao Futebol Moderno
Gênero: Indie Rock, Alternative, Dream Pop
Acesse: https://umbadubarecords.bandcamp.com/
Foto: Tuany Areze
Dois anos após o lançamento do EP Onde Anda Chico Flores? (2014), obra que apresentou ao público o trabalho da Não Ao Futebol Moderno, pouco parece ter sobrevivido da essência triste que marca a sequência de seis canções produzidas pela banda gaúcha. Em Vida Que Segue (2016, Umbaduba), primeiro álbum de estúdio do coletivo de Porto Alegre, guitarras empoeiradas flutuam em meio a versos marcadas por relacionamentos tediosos, fracassos, personagens e conflitos típicos de jovens adultos.
Como indicado durante o lançamento de Cansado de Trampar, faixa escolhida para anunciar o novo disco, todos os elementos do trabalho parecem pensados de forma a emular um som parcialmente nostálgico. Se há dois anos o quarteto – formado por Felipe, Kílary, Pedro e Marco – apontava para clássicos do real emo – como a estreia do American Football e EndSerenading (1998), do Mineral –, hoje, a proposta é outra. Temas que resgatam o Jangle Pop/Pós-Punk dos anos 1980, porém, mantém firme o diálogo com o presente cenário, explorando a obra de Mac DeMarco, Real Estate e outros nomes fortes da cena norte-americana.
Um bom exemplo disso está em Janeiro. Sétima faixa do disco, a canção de guitarras e vozes arrastadas delicadamente parece confortar o ouvinte, transportado para o mesmo universo de obras recentes como Salad Days e Atlas – ambos lançados em 2014. “Olhar pra cama e ver você me faz enlouquecer / Viajar pra dentro de você / Para te conhecer melhor”, sussurra a letra enquanto a base “litorânea” da composição se espalha sem pressa, proposta também incorporada em Laços de Família.
Claro que a “mudança de direção” por parte da banda em nenhum momento interfere na construção de pequenos atos criativos que apontam para o registro apresentado há dois anos. Basta se concentrar na quinta faixa do disco, a dolorosa Saia. Enquanto os versos sufocam pela temática existencialista – “Eu sei que o que eu vou fazer vocês já fizeram antes de eu nascer / Eu só quero tentar” –, musicalmente a canção parece romper com a trilha psicodélica que inaugura o álbum, apontando de maneira explícita para o rock alternativo do final dos anos 1990.
Em Peso Pesar, sexta canção do registro, um curioso encontro entre o passado (recente) e a presente fase do grupo gaúcho. São arranjos que inicialmente esbarram na obra de veteranos como The Smiths, vozes mergulhadas em versos semi-declamados e doses controladas de psicodelia, ponte para o fechamento essencialmente letárgico da canção, íntimo de artistas como DIIV e até da banda carioca Séculos Apaixonados. Uma fina representação do mosaico criativo que cresce parece crescer no interior do álbum.
Mais do que um registro marcado pela precisão dos temas e conceitos instrumentais, Vida Que Segue encanta pelo aspecto experimental e profunda versatilidade de cada composição. Mesmo dentro da atmosfera em branco e preto que se estende da capa do disco aos versos, faixa após faixa, o quarteto se concentra em brincar com as possibilidades, costurando diferentes cenas, ambientações e estilos distintos. Pouco mais de três décadas de referências dissolvidas de forma autoral em um trabalho que muda de direção do primeiro ao último ruído.
Vida Que Segue (2016, Umbaduba)
Nota: 8.5
Para quem gosta de: Bilhão, Ombu e Séculos Apaixonados
Ouça: Janeiro, Cansado de Trampar e Saia
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.