Resenha: “Voá”, Momo

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2017

Artista: Momo
Gênero: Indie, Samba, Folk
Acesse: https://www.facebook.com/momooficial/

 

Marcelo Frota é um cidadão do mundo. Nascido em Minas Gerais, filho de pai cearense e dono de uma longa trajetória no Rio de Janeiro, o cantor e compositor decidiu aportar em Portugal, fixando residência na região de Alfama, um dos bairros mais tradicionais da capital Lisboa. Dessa mudança vem o recém-lançado Voá (2017, Universal Music), primeiro registro de inéditas do cantor em quatro anos e a busca declarada por um som marcado pelas possibilidades.

Em um sentido oposto ao som melancólico e cinza de Cadafalso (2013), Momo traz de volta a mesma essência litorânea, intimista e levemente ensolarada de Serenade of a Sailor (2011). Um cenário montado de frente para o mar, coberto pelo Sol, amores e personagens reais que surgem e desaparecem a todo instante, a cada novo fragmento de voz. Memórias de um passado ainda recente, quente, como se o ouvinte pudesse tocar nas palavras e sentimentos lançados pelo cantor.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos de Momo está no aspecto “sorridente” que movimenta as canções. “Sem dor, com fé / Perdão, o meu destino não é solidão … Tempo é tão bonito sem partida“, canta na inaugural Esse Mar, um sopro leve, poderoso indicativo da lírica esperançosa que acompanha o ouvinte durante a obra. Uma fuga declarada do sabor amargo, quase tétrico, incorporado pelo músico em faixas como Sozinho, Recomeço e parte expressiva do último disco.

Dotado de um precioso romantismo, Voá se espalha em meio a histórias e recordações que dançam em torno de diferentes personagens. Em Pensando Nele, sem necessariamente parecer saudosista, Momo olha para a própria família de forma delicada — “Eu me peguei pensando / Eu me perdi pensando nele”. Entre arranjos e batidas cadenciadas, o doce afoxé de Meu Menino, um dos instantes de maior entrega do músico mineiro — “Uma boca que é linda / É linda / Eu bem beijei”.

Intimista na construção dos versos, em estúdio Momo faz do álbum uma obra aberta à colaboração. Produtor do disco, Marcelo Camelo se faz presente no toque litorâneo das guitarras que pontuam o trabalho, lembrando em alguns aspectos o debut da Banda do Mar. A relação com a família Camelo se repete ainda nas faixas assinadas em parceria com Thiago Camelo, caso de Roseira, Esse Mar e a derradeira Alvoreço. Surgem ainda nomes como o catarinense Wado, co-autor da pop Nanã, e o lusitano Camané, convidado a cantar em Alfama.

Marcado pela colagem de diferentes ritmos — bossa nova, surf rock, afoxé, fado, samba —, Voá talvez seja o trabalho mais completo (e complexo) de toda curta discografia do músico mineiro. O mesmo cuidado e lirismo explorado pelo músico nas canções de Buscador (2008), porém, embalado em uma fórmula própria, ainda mais detalhista, acolhedora. Instantes em que os sentimentos e histórias retratadas por Momo dialogam de forma natural com o universo do próprio ouvinte.

 

Voá (2017, Voá)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Marcelo Camelo, Wado e Cícero
Ouça:  Nesse Mar, Meu Menino, Pensando Nele

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.