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Críticas

Pratagy

: "Voo e Mansidão"

Ano: 2018

Selo: Urtiga

Gênero: Indie Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Silva e Mahmundi

Ouça: Noite Adentro e Paraíso

7.5
7.5

Resenha: “Voo e Mansidão”, Pratagy

Ano: 2018

Selo: Urtiga

Gênero: Indie Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Silva e Mahmundi

Ouça: Noite Adentro e Paraíso

/ Por: Cleber Facchi 17/09/2018

Os sentimentos escorrem por entre as brechas de Voo e Mansidão (2018, Urtiga). Terceiro e mais recente registro autoral do cantor e compositor paraense Leonardo Pratagy, o sucessor do colorido Búfalo (2017) assume novo direcionamento estético em relação ao trabalho que o antecede. Canções que vagam em um território à meia luz, revelando personagens, cenas e experiências melancólicas, como um convite a se perder em um universo guiado pelas emoções, conceito que vem sendo aprimorado pelo músico desde o primeiro álbum de estúdio, o tímido Pictures (2016).

Pode ser / Mais do que a gente imagina / Quem sabe / Onde começa ou termina / Todo amor“, questiona o eu lírico de Paraíso, segunda composição do disco. Versos que transitam entre a descoberta do amor, o medo de se aventurar em um novo relacionamento e as indefinições da vida a dois. Sussurros românticos que ampliam parte do material testado pelo músico em faixas como Tramas Sutis e De Repente. Um permanente amadurecer poético que se completa com a breve interferência do conterrâneo Arthur Nogueira, parceiro na composição de parte dos versos do trabalho.

Canções guiadas em essência por experiências particulares e conflitos do próprio compositor, porém, íntimas de todo e qualquer ouvinte apaixonado. Exemplo disso ecoa com naturalidade na faixa-título do trabalho. “Em qualquer direção / Abra meu coração / Você já sabe o que fazer com as mãos / Até tocar o azul / Sem sair do chão / Nossa parada é voo e mansidão“, canta em meio a versos abafados, conceito que se reflete até a faixa de encerramento do disco, a agridoce Pensando em Você Demais.

A principal diferença em relação ao material entregue nos últimos dois discos do músico paraense está no fino flerte com o pop atmosférico dos anos 1980. Sintetizadores e melodias enevoadas que lembram a obra de estrangeiros como Ariel Pink, Connan Mockasin ou mesmo os trabalhos da carioca Mahmundi. Pinceladas instrumentais que forçam uma audição atenta por parte do ouvinte, convidado a se perder em um mundo de pequenos detalhes e colagens instrumentais que se espalham vagarosas, sem pressa.

Perfeita representação dessa nova estrutura melódica ecoa com naturalidade logo na inaugural Noite Adentro. São camadas de sintetizadores, sobreposições etéreas e respiros que se abrem para o canto entristecido de Pratagy. “Deixe a luz acesa / Me falta coragem pra seguir só / Por isso não esqueça de mim, agora“, clama enquanto batidas empoeiradas e ruídos eletrônicos correm ao fundo da canção, rompendo com o acabamento “orgânico” que parecia orientar o repertório em Búfalo.

Interessante notar que mesmo embriagado pela nostalgia dos arranjos, Voo e Mansidão segue como uma obra atual durante toda sua execução. Faixas ancoradas em inquietações e conflitos mundanos, como se o músico paraense externalizasse conflitos internos. “Na vida, a gente passa por várias situações obscuras em que a gente tem que fazer força pra ver a luz de novo. São pequenos renascimentos que a gente vive“, resumiu Pratagy no texto de apresentação da obra, indicando a profunda exposição sentimental e entrega que orienta a experiência do ouvinte até o último fragmento poético do álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.