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Críticas

Miguel

: "War & Leisure"

Ano: 2017

Selo: ByStorm / RCA

Gênero: R&B, Hip-Hop, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Jeremih e dvsn

Ouça: Sky Walker, Pineapple Skies e Harem

8.0
8.0

Resenha: “War & Leisure”, Miguel

Ano: 2017

Selo: ByStorm / RCA

Gênero: R&B, Hip-Hop, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Jeremih e dvsn

Ouça: Sky Walker, Pineapple Skies e Harem

/ Por: Cleber Facchi 04/12/2017

Em um intervalo de poucos anos, Miguel foi do R&B comercial testado em All I Want Is You (2010), primeiro álbum em carreira solo, para os experimentos com a música pop em Kaleidoscope Dream (2012) ao misto de funk, soul e rock psicodélico que marca as canções do provocativo Wildheart (2015). Um artista entregue ao permanente reinvento da própria obra, como se a busca constante por novas sonoridades fosse a base para o som que vem sendo produzido pelo cantor/rapper desde o início dos anos 2000, quando começou a se apresentar.

Ainda que de forma tímida, em War & Leisure (2017, ByStorm / RCA), quarto álbum de inéditas em carreira solo, Miguel continua a se reinventar dentro de estúdio. Acessível, cravejado de hits pegajosos e canções feitas para fisgar o ouvinte logo em uma primeira audição, o registro de 12 faixas e pouco menos de 50 minutos de duração cresce como uma obra de essência festiva, sustentando mesmo nos versos mais densos e políticos do disco, como a inaugural Criminal, parceria com Rick Ross, um curioso componente dançante, dialogando com uma parcela maior do público.

Trata-se de uma precisa mistura de ritmos e referências que passeiam por diferentes décadas. Composições que se entregam ao soul psicodélico de veteranos como Parliament-Funkadelic e Sly & the Family Stone, porém, sempre regressando ao conceito minucioso de artistas D’Angelo e demais representantes do neo-soul nos anos 1990. Camadas de guitarras, sintetizadores, samples e vozes que flutuam em uma cama de emanações eletrônicas, lembrando uma extensão do excelente remix feito pelo Tame Impala para Waves, uma das principais composições de Miguel em Wildheart.

Exemplo disso está na colorido psicodélico de Harlem, sexta faixa do disco. Parceria com o norte-americano Happy Perez, produtor que já trabalhou com nomes como Jessie Ware e Mariah Carey, a canção parece crescer em uma enérgica colagem de ritmos e temas sintéticos, lembrando parte expressiva do som produzido pelo Tame Impala em Currents (2015). Um pop psicodélico, descomplicado, conceito também detalhado em Told You So e, principalmente, na grudenta Pineapple Skies, parceria com Salaam Remi (Amy Winhouse) que ainda usa fragmentos de Sexual Healing, do cantor Marvin Gaye.

Dentro desse cenário marcado pelos detalhes e melodias cuidadosamente elaboradas, Miguel cria pequenas brechas para a breve interferência de nomes importantes do Hip-Hop/R&B norte-americano. Além do já citado Rick Ross em Criminal, War & Leisure conta com a presença de Travis Scott em Sky Walker, música que mostra o lado mais pop da obra, porém, preservando a essência complexa do trabalho anterior. Surgem ainda nomes como Quiñ no soul-rock Wolf, a voz de apoio da cantora Kali Uchis em Caramelo Duro e a dobradinha entre J. Cole e Salaam Remi na versátil Come Through and Chill.

Meio termo entre o pop radiofônico de All I Want Is You e as pequenas experimentações testadas durante a produção de Kaleidoscope Dream e Wildheart, War & Leisure surge como o trabalho mais seguro e coeso de Miguel até aqui. Um exercício criativo que parece pensado de forma explícita para as apresentações ao vivo do cantor, percepção reforçada na rica costura instrumental que utiliza de diferentes gêneros, texturas e sonoridades sem necessariamente provar de um tema específico, transportando o ouvinte para diferentes cenários no decorrer da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.