Resenha: “Wildflower”, The Avalanches

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2016

Artista: The Avalanches
Gênero: Electronic, Psychedelic, Alternative
Acesse: http://www.theavalanches.com/

 

Desde que deixei você / Eu encontrei um mundo novo”. Mais do que um inflamado grito de libertação, o verso central de Since I Left You, faixa-título do primeiro álbum de estúdio do The Avalanches, parece indicar o longo período de experimentação e novas sonoridades que viriam a ser exploradas pelo coletivo australiano. Em um longo intervalo que durou 16 anos, os parceiros Robbie Chater, James Dela Cruz e Tony Di Blasi se concentraram na busca por fragmentos esquecidos dos anos 1960, 1970 e 1980, presentearam o público com um delicado acervo de mixtapes e retornam agora com o colorido Wildflower (2016, Modular / Astralwerks), uma obra tão ampla e significativa quanto o trabalho apresentado no começo de 2000.

Tal qual o registro que o antecede, o novo álbum – uma seleção com 21 faixas e mais de 60 minutos de duração –, se revela como uma criativa colcha de retalhos, vozes e experimentos. São fragmentos que atravessam a década de 1960 – caso de Come Together dos Beatles, em The Noisy Eater –, exploram o som colorido dos anos 1980 – vide Subways da cantora Chandra –, além de um bem servido catálogo de rimas, trechos de filmes, vozes e ruídos que se espalham da abertura do disco, em Because I’m Me, à derradeira Saturday Night Inside Out. A própria capa do álbum  sintetiza as inspirações do grupo, uma reinterpretação do clássico There’s a Riot Goin’ On (1971) do grupo Sly & the Family Stone.

Talvez a principal diferença em relação ao trabalho entregue há quase duas décadas esteja na forma como grande parte das canções em Wildflower se projetam de forma comercial, sempre íntimas do grande público. Um bom exemplo disso está em Frankie Sinatra. Escolhida para apresentar o disco, a canção reflete com naturalidade a busca do coletivo australiano por um som descompromissado, leve. Do sample afro-caribenho que serve de base para a música, passando pelo jogo de rimas divididas entre Danny Brown e MF DOOM, até o clipe produzido pela dupla Fleur & Manu, difícil escapar da ambientação “pop” que orienta a canção.

O mesmo enquadramento radiofônico acaba se revelando em diversos momentos da obra. Mais do que um regresso, Wildflower se projeta como uma diálogo do grupo australiano com a nova geração de artistas. Não é difícil imaginar Colours, parceria com Jonathan Donahue (Mercury Rev), como uma típica criação dos conterrâneos do Tame Impala. E o que dizer de Sunshine, música que facilmente poderia ter sido produzida pelo britânico Jamie XX. Mesmo a relação com o Hip-Hop, econômica em Since I Left You, acaba se revelando como um dos pontos fortes do trabalho. Um brilhante exercício de (re)apresentação por parte do coletivo.

Longe de parecer um ato isolado, como uma nostálgica coleção de vozes e melodias sampleadas, Wildflower se abre para a ativa interferência de um poderoso time de colaboradores. Nomes como Ariel Pink, na esquizofrênica Live a Lifetime Love, e Father John Misty, parceiro na derradeira Saturday Night Inside Out. Tendo na temática psicodélica um poderoso componente de atuação, o registro ainda cria pequenas brechas para a parceria com Donahue na cósmica Colours, além, claro, de Toro Y Moi em If I Was A Folkstar, música que poderia facilmente ser encontrada em qualquer disco do artista norte-americano. Sobram ainda referências ao pop dos anos 1960, principalmente nomes como The Zombies e The Beach Boys.

Em construção desde o começo da década passada – o grupo já afirmou em entrevista que o álbum só foi finalizado às vésperas da masterização –, Wildflower é um trabalho que parece dançar pelo tempo. Vozes recortadas de antigas fitas magnéticas, samples extraídos de vinis empoeirados e até retalhos em VHS que esbarram de forma contrastada em versos marcados pela limpidez da captação. Da mesma forma que em Since I Left You, um criativo ponto de encontro para diferentes épocas, gêneros e tendências musicais.

 

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Wildflower (2016, Modular / Astralwerks)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Caribou, Toro Y Moi e Cut Copy
Ouça: Colours, Because I’m Me e Sunshine

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.