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Críticas

Leonard Cohen

: "You Want It Darker "

Ano: 2016

Selo: Columbia

Gênero: Folk, Blues

Para quem gosta de: Bob Dylan e Nick Cave and the Bad Seeds

Ouça: You Want It Darker e Treaty

8.5
8.5

Resenha: “You Want It Darker”, Leonard Cohen

Ano: 2016

Selo: Columbia

Gênero: Folk, Blues

Para quem gosta de: Bob Dylan e Nick Cave and the Bad Seeds

Ouça: You Want It Darker e Treaty

/ Por: Cleber Facchi 24/10/2016

A voz talhada pelo tempo, arranjos e batidas sempre contidas, por vezes minimalistas, reforçando a atmosfera soturna e o tom confessional que sustenta de cada fragmento poético. Em You Want It Darker (2016, Columbia), 14º álbum de estúdio do cantor e compositor canadense Leonard Cohen, referências religiosas, a relação com a morte, medos e reflexões existencialistas se espalham ao fundo do trabalho, resultando em um novo e bem-sucedido capítulo dentro da extensa discografia do veterano.

Estou pronto para morrer. Espero que não seja desconfortável”, disse Cohen em um recente artigo escrito pelo jornalista David Remnick para a revista The New Yorker. Em You Want It Darker, o diálogo com a morte se estende do primeiro ao último instante da obra. São versos maquiados pelo uso de metáforas e referências particulares, mas que acabam funcionando como um aceno melancólico, referência explícita na dolorosa Traveling Light – “Boa noite, minha estrela cadente / Outrora tão brilhante, minha estrela cadente”.

Íntimo da morte, porém, nunca pessimista, apenas sereno, o registro de apenas nove faixas segue exatamente de onde Cohen parou nos dois últimos álbuns de estúdio, Old Ideas (2012) e Popular Problems (2014). São versos declamados, sempre densos, como devaneios e pequenas interpretações sobre a própria vida. Um ato sorumbático, por vezes fúnebre, proposta que acaba aproximando o trabalho do mesmo universo de temas incorporados por David Bowie no derradeiro Blackstar (2016).

Em Treaty, segunda faixa do disco, versos que brincam com a interpretação do ouvinte. Referências, adaptações e símbolos ocultos que tanto fazem da composição uma triste confissão romântica, como um diálogo do eu lírico com Deus – “Eu gostaria que houvesse um tratado / Entre o seu amor e o meu”. O mesmo conceito religioso acaba se repetindo em outros instantes do disco, como na homônima canção de abertura do álbum, música marcada pelo explícito uso de citações bíblicas.

Com produção dividida entre o filho, Adam, e Patrick Leonard (Madonna, Elton John), parceiro desde Old Ideas, o novo álbum se projeta como uma obra coesa e sensível. Ao fundo de cada composição, o uso de elementos orquestrais, vozes em coro e arranjos entristecidos, sempre detalhistas. Guitarras que dialogam com o blues em Leaving The Table, pitadas de soul music, a ambientação “eletrônica” da faixa-título, quase uma continuação de Nevermind, música de abertura da segunda temporada de True Detective. Fragmentos que completam a poesia intimista e dolorosa de Cohen.

Soma de todas as experiências e temas explorados pelo músico nos últimos trabalhos de estúdio, You Want It Darker reflete a força criativa de Leonard Cohen. Aos 82 anos – dos quais 60 são dedicados à carreira musical –, o cantor e compositor canadense faz de cada composição ao longo do registro um movimento preciso, sutil. Memórias, tormentos, confissões e sussurros melancólicos que se espalham sem pressa, como uma preciosa carta de despedida.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.