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Críticas

Tennis

: "Yours Conditionally"

Ano: 2017

Selo: Mutually Detrimental

Gênero: Indie Pop, Dream Pop

Para quem gosta de: Cults e Real Estate

Ouça: Ladies Don't Play Guitar e Matrimony

8.0
8.0

Resenha: “Yours Conditionally”, Tennis

Ano: 2017

Selo: Mutually Detrimental

Gênero: Indie Pop, Dream Pop

Para quem gosta de: Cults e Real Estate

Ouça: Ladies Don't Play Guitar e Matrimony

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2017

O conceito referencial das guitarras, versos românticos e captações caseiras fizeram do som produzido pelo Tennis a base para um projeto quase caricatural. Uma interpretação nostálgica de tudo aquilo que abasteceu o pop-rock dos anos 1970/1980. Registros de essência litorânea, como Cape Dory (2011), e melodias empoeiradas, caso de Young & Old (2012) e Ritual in Repeat (2014), que posicionam de forma quase deslocada o trabalho da dupla Alaina Moore e Patrick Riley.

Quarto álbum de estúdio da banda original de Denver, Colorado, Yours Conditionally (2017, Mutually Detrimental) mantém firme a mesma proposta explorada pelo casal nos três primeiros álbuns de estúdio. Uma coleção de músicas enevoadas, como fragmentos resgatados de uma antiga coletânea. Do primeiro ao último instante, o perfeito diálogo entre as guitarras cuidadosamente encaixadas por Riley e a voz doce, por vezes melancólica, de Moore.

Entretanto, a similaridade com os primeiros trabalhos da dupla não passa apenas de uma relação estética, produto da arquitetura musical do disco. Responsável pela composição dos versos, Moore se distancia do eu lírico romântico e sonhador de outrora para viver uma personagem real, provocativa. O resultado dessa mudança está na composição de faixas que dialogam o presente. Versos que falam sobre empoderamento, crises conjugais e o papel da mulher na sociedade.

Garotas não tocam guitarra / Garotas não descem, não descem até o chão com som delas / Talvez possamos fingir”, canta em Ladies Don’t Play Guitar, um reflexo sobre o protagonismo sufocado e o peso do machismo dentro da cena musical. Ao mesmo tempo em que dialoga com a década de 1970, efeito da sonoridade e visual adotado pela dupla para a divulgação do disco, Moore estabelece nos versos a ponte para o presente cenário, fazendo do álbum um registro necessário.

A sobriedade das letras e busca por um discurso específico não impede que a dupla se aprofunde na construção de faixas marcadas pelos sentimentos. “Você não sabe que meu amor é obrigatório? / Minhas emoções, elas estão me cegando”, canta em My Emotions Are Blinding, uma perfeita síntese da poesia intimista que recheia o trabalho e cresce com naturalidade em faixas como a inaugural In the Morning I’ll Be Better, Please Don’t Ruin This for Me e Fields of Blue.

Trabalho mais diverso de toda a discografia da banda, vide os ruídos e arranjos eletrônicos quse espalham em Matrimony, Yours Conditionally evidencia um claro amadurecimento por parte da dupla. Produzido em parceria com Jim Eno, um dos integrantes do Spoon, o trabalho mostra a capacidade de Alaina Moore e Patrick Riley se reinventar mesmo dentro de um ambiente tão particular, ainda íntimo de toda a sequência de obras produzidas pela banda nos últimos anos.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.