Sobre Cinema e Música

/ Por: Cleber Facchi 14/01/2012

Por: Cleber Facchi e Fernanda Blammer

Em vista da boa repercussão que tivemos com o especial Sobre Cinema e Música, resolvemos preparar uma continuação, indicando dez bons filmes que exploram a música como elemento de destaque. Assim como no último texto, fugimos do contexto que explora o universo musical de forma direta, trazendo filmes como Vanishing Point e Dançando no Escuro que usam da música como um enorme plano de fundo, e não como mecanismo central. Se você acha que faltaram algumas películas dêem indicações nos comentários para que possamos indicar no próximo especial, que diferente do outro deve sair em breve.

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1991: The Year Punk Broke
1991: The Year Punk Broke (1991, Dave Markey)

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Convidado para acompanhar a turnê do Sonic Youth pela Europa em 1991, o cinegrafista Dave Markey conseguiu não apenas captar uma série de imagens icônicas do grupo, como estabelece um retrato único da expansão do rock alternativo no começo da década de 1990. Com imagens das apresentações da banda em diversos pequenos (e grandes) concertos por vários países, o documentário praticamente apresenta a então iniciante Nirvana, escalada como banda de abertura do grupo nova-iorquino, dando uma pequena mostra do que viria a se transformar dentro de alguns meses. O filme ainda traz imagens de outras bandas, como Dinosaur Jr (vivendo o ápice criativo naquele momento), Mudhoney e Ramones, ilustrando toda a multiplicidade de projetos ruidosos que se estabeleciam naquele momento. Durante duas décadas circulando apenas em VHS, o filme ganhou em 2011 uma versão especial em DVD, trazendo uma série de novos depoimentos, além de imagens renovadas.

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 Botinada

Botinada – A Origem do Punk No Brasil
(2006, Gastão Moreira)

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Montado em cima de um visual tosco (e punk), Botinada – A Origem do Punk No Brasil revela de maneira honesta e ampla toda a formação da cena musical punk no começo dos anos 1980, fracionando essa percepção sobre os núcleos montados no centro e nas regiões periféricas de São Paulo. Contando com depoimentos de indivíduos que estiveram à frente de diversas bandas daquele período – como Ratos de Porão, Inocentes, Cólera e Garotos Podres -, o documentário passeia através de uma soma de imagens históricas, construindo em pouco mais de 100 minutos a visão do público, dos integrantes daquele movimento, jornalistas e inclusive de pessoas externas a isso, como ao apresentar os familiares de alguns punks. Interessante a maneira como o diretor Gastão Moreira observa os pequenos coletivos para gravações de discos, organizações de shows, além da cômica invasão punk em uma festa da alta sociedade paulistana.

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Corrida Contra o Destino
Vanishing Ponit (1971, Richard C. Sarafian)

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Mais do que um mero filme de perseguição policial, o diretor Richard C. Sarafian conseguiu transformar Vanishing Point em um dos mais distintos olhares sobre a cultura norte-americana pós-Woodstock. Embalado por um tom filosófico (a cultura hippie é sutilmente difundida no interior da obra), a película acompanha o transportador de carros Kowalski (Barry Newman) em uma corrida para percorrer mais de 1000 km em um só dia – um trajeto entre Denver, Colorado e São Francisco, Califórnia -, buscando cumprir uma aposta feita previamente com um amigo e entregar para um comprador o eternizado Dodge Challenger ’70. No meio do caminho uma divergência com a polícia transforma o protagonista em um procurado, seguindo o percurso em meio a uma trilha composta por músicas da época embaladas pelo DJ Super Soul (Cleavon Little). Cultuado mundo afora, o filme já contou com citações em músicas do Guns N’Roses, uma trilha sonora alternativa feita pelo Primal Scream (no álbum Vanishing Point de 1997) além de uma série de referências que incluem músicas e citações em outros filmes, como À Prova de Morte de Quentin Tarantino.

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Dançando no Escuro
Dancer In The Dark (2000, Lars Von Trier)

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Amargurado e sufocante até a cena final, Dançando no Escuro é um trabalho repleto de acertos, revelando tanto a boa fase do diretor dinamarquês Lars Von Trier (naquela época se preparando para desenvolver o clássico Dogville) como a atuação única da islandesa Björk. Espécie de anti-musical, o filme retrata a história da humilde Selma Jezková (Björk), vítima de uma doença degenerativa que vem lhe causando cegueira, a protagonista passa a acumular dinheiro pensando em pagar uma cirurgia para que o filho não sofra da mesma sina. Em meio a coreografias marcadas pela excentricidade e composições montadas exclusivamente para o filme (depois concentradas em um disco), a obra se encaminha para o desfecho trágico da protagonista, que se envolve em um confuso assassinato sendo injustamente julgada posteriormente enquanto tenta a todo custo proteger o filho. Marcado por desentendimentos entre o diretor e a cantora/atriz, a película foi o primeiro e último trabalho de Björk no cinema.

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5555

Interstella 5555
Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem (2003, Kazuhisa Takenouchi)

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Em março de 2001 a dupla francesa Daft Punk apresentava ao mundo o maior álbum de música eletrônica que a primeira década dos anos 2000 ouviria, Discovery. Dançante até a última faixa e cravejado de hits, o registro ganharia dois anos mais tarde uma edição especial, Interstella 5555, uma animação longa metragem que concentrava todos os clipes montados para as faixas do álbum. Dirigido por Kazuhisa Takenouchi e contando com a produção do estúdio japonês Toei Animation, o filme (uma ficção-científica que conta o sequestro de uma banda intergaláctica) vai ao longo de 68 minutos cobrindo com imagens as batidas quentes e os vocais em looping projetados pela dupla. Enquanto One More Time, Aerodynamic e outras mais composições do álbum se desenvolvem, a história arquitetada por Takenouchi prossegue, tornando praticamente imperceptível a ausência de falas ou quaisquer sons alheios aos propostos pelas músicas.

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Johnny & June
Walk The Line (2005, James Mangold)

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Embora retrate a vida e a obra do cantor e compositor norte-americano Johnny Cash (Joaquin Phoenix), Johnny & June a cinebiografia do músico utiliza da carreira do artista como um imenso plano de fundo para observarmos a relação entre ele e a esposa June Carter (Reese Witherspoon, que ganhou o Oscar de melhor atriz por sua atuação neste filme). Percorrendo várias épocas da carreira do músico, o filme absorve os problemas de Cash com as drogas, as tentativas frustradas de alcançar o sucesso, até o ápice comercial do artista em idos de 1960. Dirigido por James Mangold (que já havia dirigido Identidade e Garota Interrompida) o filme dilui o relacionamento entre o casal enquanto as composições e apresentações do cantor são trabalhadas de forma ampla e satisfatória. Gravado pouco tempo após a morte do cantor, o registro vai além do relacionamento do casal, explorando personagens notórios daquele período, como Roy Orbison, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley.

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Não Estou Lá
I’m Not There (2007, Todd Haynes)

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Cercado durante toda a vida por diversos mitos, Bob Dylan e as histórias que o envolvem são a base para a construção de Não Estou Lá, filme que percorre as diferentes fases do cantor, bem como suas distintas histórias e personas. Desenvolvido como uma biografia não convencional, a película fraciona Dylan (e seus múltiplos espíritos) em diferentes papeis, revelando todas as “personagens” e fases pelas quais o músico norte-americano já percorreu. Contando com Christian Bale, Cate Blanchett (em uma atuação surpreendente), Heath Ledger, Marcus Carl Franklin, Richard Gere e Ben Whishaw no papel do cantor, o vídeo passeia tanto pela fase religiosa do músico (bem explorada por Bale) como em seus períodos iniciais, abrangendo tanto a explosão como símbolo da música folk no começo dos anos 1960 ao rompimento com o gênero quando passa a introduzir o uso de guitarras.

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No Distance Left to Run
No Distance Left to Run (2010, Dylan Southern/Will Lovelace)

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Maior fenômeno do rock britânico da década de 1990, o Blur resolveu romper com o hiato de apresentações estabelecido no começo dos anos 2000 ao promover uma série de distintos shows por diversas cidades inglesas durante uma temporada em 2009. Acompanhando todo esse processo, os diretores Dylan Southern e Will Lovelace não apenas retratam a nova turnê (que culmina em uma imensa apresentação no Hyde Park de Londres, além de outro espetáculo quase religioso no Glastonbury daquele ano), mas trazem de volta toda a história do grupo, retratando desde a formação da banda no final da década de 1980, a explosão em idos dos anos 90 e principalmente os conflitos, excessos e problemas que começaram a acompanhar o quarteto quando este tornou-se mundialmente conhecido a partir do clássico álbum Parklife de 1994. Repleto de depoimentos dos integrantes da banda (e captando toda a euforia dos fãs), o filme demonstra toda a intensidade dos shows do grupo bem como a devoção estabelecida em mais de 15 anos de carreira.

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Scott Pilgrim Contra o Mundo
Scott Pilgrim versus The World (2010, Edgard Wright)

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Cultura pop, videogames e garage rock se encontram neste que é um dos melhores retratos da atual geração de jovens. Centrado no universo do boa vida Scott Pilgrim e explorado como uma espécie de jogo de videogame – para conquistar o coração da amada Ramona Flowers, Pilgrim precisa vencer os sete ex-namorados malignos  da garota -, o filme (baseado em uma história em quadrinhos criada por Bryan Lee O’Malley) concentra uma gama de elementos visuais que se relacionam tanto com a atual soma de espectadores como com a geração passada, reforçando elementos da cultura 8-bit como do rock de garagem típico da década de 1990. Dirigido pelo assertivo Edgar Wright (que já havia trabalhado nos ótimos Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso), o filme segue em ritmo frenético, condensando cenas de luta bem produzidas, boa música e toda uma variedade de elementos que mantém a película intensa até o final. Para a trilha sonora do filme (assumida pelo produtor Nigel Godrich), nomes como Beck, Broke Social Scene e Metric deixaram sua contribuição.

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Titãs – A vida até parece uma festa
(2009, Branco Melo e Oscar Rodrigues Alves)

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Bizarro e genial, A Vida Até Parece uma Festa passeia por quase trinta anos da carreira de uma das mais importantes bandas do rock nacional, os Titãs. Gravado e dirigido por Branco Melo, um dos integrantes do grupo, a película acompanha a banda desde o seu surgimento na escola paulistana __ em idos da década de 1980, com os integrantes se revezando em uma performance marcada pela esquisitice de seus componentes. Boa parte do filme é captado através de uma câmera VHS, resultado na produção de um visual nostalgicamente caseiro, esboçando desde os abusos com as drogas até as conturbadas gravações dos discos. Um dos momentos mais marcantes do filme está relacionado à morte do guitarrista Marcelo Fromer, que após se despedir dos demais componentes da banda (durante as gravações do disco A Melhor Banda De Todos os Tempos Da Última Semana) parte para cara, onde no caminho seria atropelado, morrendo horas mais tarde no hospital. Mais do que uma bela obra aos amantes do trabalho da banda, o filme é uma alternativa consistente para quem ainda desconhece as produções do grupo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.