Um Dia de Gentilezas

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2012

Por: Cleber Facchi

Aponta o dicionário que Gentileza é uma “ação nobre, ilustre e distinta”, um acumulado de experiências tomadas por “agrado, garbo e maneiras graciosas”. Há também edições que classifiquem a mesma expressão como “obra de arte, executada com primor”. Elementos estes, que agregados de maneira sutil, vão aos poucos se evidenciando em cada acorde, verso ou mínima sensação esbanjada pelo coletivo paranaense Banda Gentileza, grupo que conseguiu em uma rápida passagem pela capital paulistana derramar um pouco do tom gentil (e festivo) que se evidencia em suas composições.

Formada em meados da década passada por Heitor Humberto e um pequeno número de envolvidos músicos da cena curitibana, o projeto centraliza elementos vindos de distintas frentes sonoras, resposta mais do que natural ao atual composto de seis integrantes que residem no interior do grupo. Com Artur Lipori (trompete, guitarra, baixo), Diego Perin (baixo, concertina), Diogo Fernandes (bateria), Lucas Lara (guitarra, violão, viola caipira), Tetê Fontoura (saxofone, teclado ) e, claro, Humberto nos vocais, guitarras e cavaquinho, a banda curitibana transformou as duas apresentações que fez em São Paulo em um misto enorme de sensações, todas orientadas de maneira comemorativa e levemente melancólicas.

Cercada por um clima familiar, a primeira apresentação do grupo se deu no espaço de entrada do SESC Pinheiros, onde pais, mães e seus filhos catavam (ou fantasiavam entusiasmados) o empolgado repertório da banda. Pendendo para a música brega da década de 1970, toques de música sertaneja de raiz, um tempero da sonoridade típica dos povos bálcãs e um plástico acréscimo de guitarras, o grupo conseguiu em poucos minutos prender o pequeno público ali presente. Com um repertório curto, o sexteto foi desenrolando uma soma de velhas conhecidas, adoráveis composições como Teu capricho, meu despacho, O indecifrável mistério de Jorge Tadeu e Piá de Prédio que serviram para cativar ou mesmo atrair quem passava pela frente do espaço.

Entre velhas conhecidas – vindas de quando o grupo ainda se chamava Heitor e Banda Gentileza -, os curitibanos aproveitaram para apresentar uma pequenas soma de novas canções, faixas que devem estar no próximo disco da banda, ainda sem data de lançamento, mas que até o final do ano deve ganhar formas bem definidas. Entre os pequenos destaques que o grupo trouxe para a apresentação, vê-se uma clara necessidade em experimentar, algo que o peso maior nas guitarras e até uma passagem pelo funk carioca (!) acabaram revelando. Para o final do rápido show, a nonsense Sempre Quase acabou contando com um divertido acréscimo, com trechos de The Lion Sleeps Tonight (da banda norte-americana The Tokens e eternizada no filme O Rei Leão) transformando o espetáculo em uma quase celebração.

Se o espaço amplo do SESC Pinheiros e o clima ameno de final de tarde acabaram revelando uma apresentação ensolarada e familiar, com o repertório montado para o show no Apê 80 naquela noite, o grupo revelaria outra face. Com anéis luminosos encaixados nos dedos de cada um dos integrantes e tomados pela escuridão programada do ambiente, a banda deu continuidade ao bem sucedido espetáculo que havia montado na mesma tarde, convertendo o clima familiar em um evento dançante, levemente alcoolizado, mas de celebração tão grande (se não maior) quanto a proposta previamente.

O repertório não foi muito diferente do que o sexteto havia apresentando poucas horas antes, entretanto, a maneira quase raivosa com que o grupo amarrava acordes, versos e as batidas firmes de bateria garantiram nova percepção ao composto musical proclamado. Talvez pelo efeito do álcool ou o abraço dos amigos, exaltar os versos de Garçom (de Reginaldo Rossi) que se escondem na romântica O indecifrável mistério de Jorge Tadeu tenham outro significado, sensação que também preencheu as demais composições lançadas ao longo da noite.

Aos poucos, a gentileza proclamada pela banda assumiu novas formas, mostrando que para além das definições vindas do dicionário, a Gentileza proposta pelo grupo tem outros incrivelmente ricos significados.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.